Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Dois momentos
absolutamente distintos, distantes cerca de 50 anos, me remetem ao Hotel dos
Reis Magos . O primeiro deles foi o dia de sua inauguração pelo então
governador Aluízio Alves. Era uma Natal ainda provinciana, sem os grandes
edifícios de hoje, e meus olhos de menino talvez em meus 15 anos (naqueles
tempos aos 15 anos é que se começava a ser adolescente) testemunhavam,
espantados, o mar de gente que se espraiava pela Hermes da Fonseca em busca da
Praia do Meio. Estava lá, novinho e imponente, o hotel dos Reis Magos para ser
inaugurado. Da balaustrada da Getúlio Vargas o espetáculo era ainda mais
bonito, um mundo de gente em movimento pela avenida Sylvio Pedrosa. Impossível
esquecer a cena. O Reis Magos era o novo cartão postal da cidade, vaidade de
sua gente.
Vi agora, e este é o
segundo momento, a foto de Eduardo Maia na capa do Novo Jornal. O mesmo prédio,
o mesmo Reis Magos. Mas não é mais a mesma coisa. Ninguém olha mais pra ele.
Velho, triste, sujo, abandonado. Alguém mais curioso, que arrisque um breve
olhar, será provocado pela inscrição em suas paredes: Cuidado, cão solto. A
pergunta vem de imediato: pra quê? Tomar conta dos ratos? A fotografia de
Eduardo Maia é modelo de jornalismo e cruel ao expor uma verdade, uma situação
real. Melhor que o prédio, que um dia foi moderno e bonito, fique apenas na
lembrança. Ficará mais preservado assim. Deixem que o novo tempo, o novo século
façam construir ali um novo equipamento de arquitetura bela a enriquecer a
paisagem de nossa Praia do Meio. Como foi um dia o Reis Magos, conferindo
dignidade àquele espaço.
E é isto que parece
pedir o prédio cinquentenário na foto de Eduardo Maia. Nela, o Reis Magos
parece rogar que o deixem partir. A história registrará seus tempos de glória,
de festas, de abrigo para presidentes da República, celebridades da política,
da música, do esporte, de cinema e telenovela, empresários. Tudo registrado em
nossa memória e na história. Pra quê, hoje, prolongar a sua agonia?
*Texto publicado na coluna do jornalista no Novo
jornal. Leia mais: Esconderam e
abandonaram o presépio de Oscar Niemeyer
O texto de Albimar resume tudo. Excelente. Histórico. Atual.
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