Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Li, por esses dias,
matéria aqui mesmo no Novo Jornal, contando um pouco da história de um
município que há 30 anos sumiu do mapa sob as águas da maior barragem do
Estado. São Rafael teve suas ruas, casas, praças, comércio, igreja, escolas e sítios
inundada pela Armando Ribeiro Gonçalves. Fiz, em tempos de repórter da Tribuna
do Norte, matérias sobre os primeiros projetos detalhando a grande barragem que
como tantas outras obras chegava para ser a redenção do Rio Grande do Norte.
As matérias eram
produzidas naturalmente, sem emoção maior. Depois, já no Diário de Natal e com
a responsabilidade grande de substituir Vicente Serejo em férias de sua
consagrada Cena Urbana, vi chegar à redação a matéria anunciando que no dia
seguinte São Rafael começaria a ser desocupada. As pessoas deixariam o seu
lugar, a sua cidade para ocupar outro ponto do mapa que nada tinha de
emocional, de raiz, de paixão. Senti o peso, procurei me colocar no lugar do
nativo de São Rafael. Certamente fiquei a léguas do sentimento deles. Pensei se
isso acontecesse com a cidade que adotei como a de minha origem. Comecei a
perceber o significado daquela despedida. O texto que fiz refletia isso.
Pensei na minha cidade e
me imaginei passeando em suas ruas e becos em despedida. Não jogaria mais bola
no campinho improvisado; não rezaria mais na igreja de tantas missas; não
haveria mais a praça para nela circular nas noites de domingo, com a melhor
roupa; acabaria o cenário onde aconteceu a primeira paquera (naqueles tempos
era flerte). A mudança seria para outra cidade de ruas iguais, casas iguais,
cores iguais. Sem história, sem lembranças, sem graça. Trinta anos depois,
certamente muita coisa mudou, uma nova geração surgiu. Li por esses dias a
matéria do Novo Jornal. Vi na televisão a entrevista com a professora
emocionada que visitava o chão da velha São Rafael redescoberto pela seca braba
e apontava os lugares que preenchiam sua vida de criança e adolescente.
A cidade sumiu, a torre
da igreja que durante muitos anos resistiu à insistência das águas, já tombou.
A barragem, se não foi a redenção econômica do estado, foi importante e muito,
para a economia potiguar. São Rafael retomou, em outro solo, sua vida.
Um dia eu também saí de
minha cidade. Felizmente, sem adeus.
*Texto publicado na coluna do jornalista no Novo
Jornal [Leia mais]
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