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sábado, 21 de dezembro de 2013

O passeio pelas ruas da cidade que já não há

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
Li, por esses dias, matéria aqui mesmo no Novo Jornal, contando um pouco da história de um município que há 30 anos sumiu do mapa sob as águas da maior barragem do Estado. São Rafael teve suas ruas, casas, praças, comércio, igreja, escolas e sítios inundada pela Armando Ribeiro Gonçalves. Fiz, em tempos de repórter da Tribuna do Norte, matérias sobre os primeiros projetos detalhando a grande barragem que como tantas outras obras chegava para ser a redenção do Rio Grande do Norte.
 
As matérias eram produzidas naturalmente, sem emoção maior. Depois, já no Diário de Natal e com a responsabilidade grande de substituir Vicente Serejo em férias de sua consagrada Cena Urbana, vi chegar à redação a matéria anunciando que no dia seguinte São Rafael começaria a ser desocupada. As pessoas deixariam o seu lugar, a sua cidade para ocupar outro ponto do mapa que nada tinha de emocional, de raiz, de paixão. Senti o peso, procurei me colocar no lugar do nativo de São Rafael. Certamente fiquei a léguas do sentimento deles. Pensei se isso acontecesse com a cidade que adotei como a de minha origem. Comecei a perceber o significado daquela despedida. O texto que fiz refletia isso.
 
Pensei na minha cidade e me imaginei passeando em suas ruas e becos em despedida. Não jogaria mais bola no campinho improvisado; não rezaria mais na igreja de tantas missas; não haveria mais a praça para nela circular nas noites de domingo, com a melhor roupa; acabaria o cenário onde aconteceu a primeira paquera (naqueles tempos era flerte). A mudança seria para outra cidade de ruas iguais, casas iguais, cores iguais. Sem história, sem lembranças, sem graça. Trinta anos depois, certamente muita coisa mudou, uma nova geração surgiu. Li por esses dias a matéria do Novo Jornal. Vi na televisão a entrevista com a professora emocionada que visitava o chão da velha São Rafael redescoberto pela seca braba e apontava os lugares que preenchiam sua vida de criança e adolescente.
 
A cidade sumiu, a torre da igreja que durante muitos anos resistiu à insistência das águas, já tombou. A barragem, se não foi a redenção econômica do estado, foi importante e muito, para a economia potiguar. São Rafael retomou, em outro solo, sua vida.
 
Um dia eu também saí de minha cidade. Felizmente, sem adeus. 
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no Novo Jornal [Leia mais]
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