Por Flávio Rezende*
Estes dias dando uma
olhadinha nos jornais vi uma foto que acendeu a luzinha que provoca pensamentos
filosóficos. Era um alto representante do clero católico, totalmente
paramentado, visitando uma governante que tinha obtido uma sobrevida
administrativa em decorrência de uma decisão judicial.
Pelo que observo no
ibope cidadão a existência de tal governante é um dano ao desenvolvimento, e um
atraso amparado em índices negativos diversos que acompanham sua gestão desde o
início.
Numa situação desta é
recomendável discrição no apoio institucional, uma vez que a grande maioria da
população achou bom o afastamento. A pessoa ir dar um abraço, em nome de uma
amizade pessoal é uma coisa, mas a pessoa ir com a farda do exército por
exemplo, com o crachá da empresa ou a vestimenta eclesiástica, caracteriza um apoio
da instituição que representa, o que não é recomendável.
Olhando a foto mais uma
vez fiquei refletindo. As religiões ocupam uma posição muito confortável, diria
até, paradisíaca, diante do inferno que vivemos. Explico melhor: se um
religioso não apoia alguém que cai de uma posição superior, se não visita um
preso qualquer e não abraça um criminoso barra pesada, ninguém reclama, afinal,
as situações são de erro e a priori, nenhuma religião aceita as coisas erradas.
Se por outro lado, algum
religioso abraça um preso, se solidariza com um governante em desgraça ou fica
ao lado de baderneiros diversos, a sociedade tende a compreender, afinal as
religiões pregam o perdão, a fraternidade etc.
Seguindo este
raciocínio, os religiosos, pelo menos em tese, navegam neste mar de
benevolência pública, não sendo recriminados em nenhuma situação e, até
internamente, se perdoam quando são flagrados nos atos mais terríveis, como a
pedofilia, por exemplo.
Observando vários
comportamentos religiosos em todos os tempos, percebemos com olhos de querer
ver, que muitos seres de índole negativa, se abrigam nestes espaços, para que
possam se mover em habeas corpus preventivos, realizando suas maldades no
privado e acendendo velas em público.
Nós, simples mortais,
submetidos as leis comuns e aos dogmas religiosos, geralmente não somos bem
julgados quando agimos dessa maneira muito pendular.
Em nosso cotidiano somos
sempre cobrados pelo famoso “ou é, ou não é”. Já os religiosos podem ser e
podem não ser, podem abraçar ou podem condenar, podem beijar e podem apedrejar.
Por enquanto, nesta
sociedade presa a mentiras históricas, traduções interesseiras e equívocos
consolidados, teremos que navegar nesta ambiguidade e, quem sabe um dia,
possamos finalmente ter a luz do esclarecimento, a verdade verdadeira de como
as coisas realmente são, dispensando muitos intermediários que, na verdade, tem
menos condições intelectuais e morais que a média de todos nós.
*É escritor, jornalista e ativista social em Natal
(escritorflaviorezende@gmail.com)
0 comentários:
Postar um comentário