Texto e foto por Osair Vasconcelos*
Foto por Osair Vasconcelos no Facebook
|
Todo mundo tem sua
crônica de natal, eu também tenho a minha. Mas ela é simples.
Meu pai mora em frente a
essa capelinha.
Todo dia, ele senta na
varanda de sua casa numa velha cadeira de balanço, pega um livro qualquer
desses livros profanos que eu lhe levo, começa a ler mas, algum tempinho
depois, troca por um livro espírita de sua escolha, e faz suas viagens
insondáveis.
Aos 88 anos, papai não
tem o olhar cansado. Quantas coisas já viveu em todo esse tempo, mas não tem o
olhar cansado.
Tem suas lembranças,
claro. Mas sou muito convicto de que ele nem se deixa corroer pelas ruins, nem
se anima na vida só por causa das boas.
De alguma forma, por
algum motivo, ele encontrou o caminho de estar no presente e ir em frente.
Não me preocupo muito em
saber porque meu pai é assim tranquilo. Não lhe pergunto isso.
Como filho, fico feliz
em apenas ver o quanto ele é sereno, sem raiva, sem frustrações, sem dores na
alma - ou, diante dessas três últimas coisas, como as trabalhou, expulsou-as de
sua alma, dissipou-as nos ventos de suas divagações, desfez-se delas nos
intervalos da vida dedicados à reflexão.
Sei bem, de conhecer a
sua vida, o quanto ele, sem jamais ter ouvido falar de schopenhauer, praticou
desde sempre a grande lição: "o importante é manter a mente aberta,
quieta; a espinha ereta e o coração tranquilo".
Um dia depois do dia de
natal, meu pai aniversaria.
Em muitos anos, sei que
ele, todo dia, ao abrir a porta de sua casa, sentar-se na velha cadeira e
levantar os olhos não cansados de suas leituras, mira essa capelinha.
Quando vou visitá-lo,
gosto de olhá-la. Ela é a visão diária do meu pai: uma capelinha em frente a um
gramado natural, tendo ao lado uma árvore também muito antiga que espalha uma
sombra refrescante. Tento vê-las com os olhos do meu pai, esses olhos de olhar
não cansado depois de tanto tempo.
Então, me lembrei que gostaria
de desejar bom natal a todos, um feliz ano novo.
e escolhi como mensagem
o que o meu pai vê.
Essa capelinha, essa
árvore...
E, se mais não for,
divido com vocês a sensação que trago lá de dentro dos olhos não cansados do
meu pai.
- Texto e foto retirados da página do autor, no
Facebook: https://www.facebook.com/osair.vasconcelos
0 comentários:
Postar um comentário