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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Crônica do jornalista Osair Vasconcelos neste Dia de Natal

Texto e foto por Osair Vasconcelos*
 
Foto por Osair Vasconcelos no Facebook
Todo mundo tem sua crônica de natal, eu também tenho a minha. Mas ela é simples.
 
Meu pai mora em frente a essa capelinha.
 
Todo dia, ele senta na varanda de sua casa numa velha cadeira de balanço, pega um livro qualquer desses livros profanos que eu lhe levo, começa a ler mas, algum tempinho depois, troca por um livro espírita de sua escolha, e faz suas viagens insondáveis.
 
Aos 88 anos, papai não tem o olhar cansado. Quantas coisas já viveu em todo esse tempo, mas não tem o olhar cansado.
 
Tem suas lembranças, claro. Mas sou muito convicto de que ele nem se deixa corroer pelas ruins, nem se anima na vida só por causa das boas.
 
De alguma forma, por algum motivo, ele encontrou o caminho de estar no presente e ir em frente.
 
Não me preocupo muito em saber porque meu pai é assim tranquilo. Não lhe pergunto isso.
 
Como filho, fico feliz em apenas ver o quanto ele é sereno, sem raiva, sem frustrações, sem dores na alma - ou, diante dessas três últimas coisas, como as trabalhou, expulsou-as de sua alma, dissipou-as nos ventos de suas divagações, desfez-se delas nos intervalos da vida dedicados à reflexão.
 
Sei bem, de conhecer a sua vida, o quanto ele, sem jamais ter ouvido falar de schopenhauer, praticou desde sempre a grande lição: "o importante é manter a mente aberta, quieta; a espinha ereta e o coração tranquilo".
 
Um dia depois do dia de natal, meu pai aniversaria.
 
Em muitos anos, sei que ele, todo dia, ao abrir a porta de sua casa, sentar-se na velha cadeira e levantar os olhos não cansados de suas leituras, mira essa capelinha.
 
Quando vou visitá-lo, gosto de olhá-la. Ela é a visão diária do meu pai: uma capelinha em frente a um gramado natural, tendo ao lado uma árvore também muito antiga que espalha uma sombra refrescante. Tento vê-las com os olhos do meu pai, esses olhos de olhar não cansado depois de tanto tempo.
 
Então, me lembrei que gostaria de desejar bom natal a todos, um feliz ano novo.
e escolhi como mensagem o que o meu pai vê.
 
Essa capelinha, essa árvore...
 
E, se mais não for, divido com vocês a sensação que trago lá de dentro dos olhos não cansados do meu pai.
 
- Texto e foto retirados da página do autor, no Facebook: https://www.facebook.com/osair.vasconcelos
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