Por Everton Dantas
Uma das coisas
interessantes de trabalhar no NOVO JORNAL é que todo sábado tem plantão. Pode
parecer estranho, mas o plantão aqui do NJ é diferente. Trabalhamos pela manhã,
fechamos a edição de domingo e, após cumprirmos nossas obrigações, descemos
todos juntos para o NOVO GRILL, extraoficialmente o braço gastronômico do
jornal. Lá, por volta do meio-dia, sempre com a presença de Cassiano Arruda,
quem é de beber, bebe; quem é de comer, come; e todos são de conversar. Em
determinadas ocasiões somos visitados por convidados especiais e surpresa. Dia
desses um diplomata aterrissou por lá. E gostou!
Lá, debate-se política,
cultura, tecnologia, a existência de marcianos, passando pelos detalhes
sórdidos do que isso implica e expandindo-se até a programação do jornal para a
semana que virá. Muitas manchetes de domingo saem dessa conversa descontraída.
O ambiente tremendamente familiar e sem frescura tem um charme que a história
de Natal já perdeu. Jaufran e companhia comandam o barco com maestria, não
deixando faltar nada na mesa de todos.
Mas essa introdução toda
é para (primeiro!) informar que pra variar esse não é um texto sério. E
(segundo!) informar que sábado passado, o plantão no Grill bateu um recorde:
tendo a meu lado dois flamenguistas (Rafael Duarte e Viktor Vidal) assisti
surpreso – sob a testemunha de outro vascaíno – os dois concordarem que quem
perderia com a queda do Vasco e do Fluminense para a segunda divisão seria o
time rubro negro.
Concordaram inclusive
que a série B do ano que vem será a melhor da história jamais vista no Brasil,
posto que terá dois dos melhores times cariocas levando seu show Brasil afora e
trazendo-o, inclusive, à Arena. Já pensou que coisa sensacional (?): ver um
América e Fluminense? Um ABC e Vasco? Num estádio feito para a Copa do Mundo,
do qual se vê de um gol a outro sem dificuldade. Já pensou toda Natal parada –
como se fosse Carnatal, nos tempos áureos – toda concentrada dentro da Arena,
assistindo um Vasco versus América? Ou um Fluminense versus ABC? Quanto drama e
contradição em torno de uma partida de futebol. O Brasil inteiro há de invejar
Natal pela possibilidade de experimentar tais sentimentos. Rafael e Viktor
concordaram com isso. E uma possível final: entre Vasco e Fluminense, na Arena?
Seria glória! Sei que essa possibilidade é mais difícil porque há muitos outros
estádios que os times cariocas deverão dar preferência, como o Maracanã. Mas
não se pode dizer que é impossível, concorda? Vai que... Rafa e Vitinho também
concordaram com isso.
Mas essa não foi a razão
do meu espanto. O maior espanto foi ter convencido os dois que o Flamengo saiu
perdendo com a descida de seus dois maiores arquirrivais.
Imagine um filme do
Batman no qual só passa o Pinguim porque o Coringa e o próprio Batman
resolveram estar em outro filme. Que graça terá? Imagine a ginga sem a tapioca
e a cerveja? Que graça tem? Imagine Os Trapalhões, na época de ouro, só com
Dedé e Zacarias. Funciona? Imagine Os Três Mosqueteiros só com Portos e Atos?
Nem seria escrito. Viktor e Rafa balançavam a cabeça, positivamente. E, antecipadamente,
selaram parceria com o seguinte raciocínio: ano que vem, Brasileirão: o
Flamengo vence no domingo algum jogo. Dia seguinte, na redação, com quem
brincar? Com quem tirar aquela onda? Aquela brincadeira que faz do futebol essa
“cultura” que extrapola o campo, o gramado, o estádio a bola. Rafa e Viktor
procurarão em vão um torcedor do... Figueirense? Do Chapecoense? Quede aquela
guerra de um jogo contra o Gigante da Colina ou contra o Tricolor? Quede aquela
disputa eterna que sempre excitava a imaginação de todos os torcedores desses
times. Enquanto isso – em lado oposto a essa solidão intelectual que o Flamengo
viverá – Vasco e Fluminense (com seus reais torcedores – não aquelas bestas
feras que deram aquele espetáculo domingo) dando show na série B, ajudando no
crescimento de times um pouco menores, mas gigantes no sentido de guardar o
verdadeiro sentimento de amor que se deve ter com relação a um time de futebol.
Algo sadio e que liga amigos e famílias. Vasco e Fluminense estarão, em 2014,
fazendo história e ajudando como nunca o futebol brasileiro.
Ao final da
argumentação, os dois flamenguistas não só concordavam comigo como admitiam ter
medo de serem atacados pela depressão de se verem sozinhos numa série A sem
qualquer diversão. Acho que foi minha imaginação, só pode. Mas juro de pés
juntos que em dado momento vi quando se entreolharam e – concomitantemente –
engoliram seco, constatando no mesmo átimo de segundo a triste, contraditória e
real consequência das vitórias de seu time. Eu só pude lamentar. Nada mais.
Torço do fundo do
coração que o futuro para eles não seja tão obscuro e solitário. Se precisarem
de um ombro amigo e um jogo animado, estamos à disposição! Todos nós, vascaínos
e tricolores, pela força mágica do futebol. Todos juntos vamos, para a Arena.
Salve a série B. E à amizade, que certamente perdoará a brincadeira.
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