Araceli Sobreira*
Naquela tarde, tive que
subir a enorme ponte que separava os bairros principais da cidade. Havia lavado
roupa a tarde inteira. As mãos permaneciam brancas, sem viço algum. O sabão
comia a pele já ressecada de anos de tanque. O rio estava marrom. A chuva de
toda tarde misturou restos de lixo, gravetos, troncos, folhas e uma imundice
que não cabia no juízo de pessoas sensatas.
Amanhã, é dia de ir para
dona Lúcia. Gente que não sabe o que quer! Uma hora troca tudo, noutra hora,
não tem nada para lavar! Bom para mim, só assim, popo minhas mãos! Tinha medo
de cair daquela altura, só andava apoiada no cimento frio. Tentava sempre olhar
para frente, para os carros acelerados e sem rostos que passavam por mim. Às
vezes, ainda conseguia enxergar um rosto triste ou um jovem dormindo com a cara
grudada no vidro dos ônibus que se juntavam antes de passar para o outro lado.
Sempre mandava os olhos para algum lugar distante, nunca para a água imunda que
descia pela cidade.
Brutalmente, naquele
dia, mirei as águas sombrias. Tinha uns cinquenta metros entre a ponte e o meu barraco, quando vi a mão presa nos
troços do rio. Não tinha ninguém naquela
hora e respirei fundo tentando pensar como alguém poderia se jogar num rio sujo
como aqueles. Era mesmo o fim do fim, morrer na mais pura lama!
*Em post da página Pedra do Serão
Já agradecendo a partilha!
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