Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Na visita que fiz por
esses dias ouvi a tia perguntar ao sobrinho de seus cinco, seis anos: quando
você crescer vai ser o quê? Foi a senha pra que repassasse em mim as mil e uma
coisas que eu pensei ser ao crescer. Hoje, olho o retrovisor e nele não há
qualquer sombra da realização dos meus desejos. Moleque em meus 10 anos,
jogando pelada nas ruas areadas do Tirol (Djalma Maranhão não tinha ainda
assumido a prefeitura) sonhava ser goleiro do ABC.
Me contentei em ver
Ribamar e Erivan defender bolas impossíveis. Depois, sucedendo-se nos ouvidos
as vozes de Dick Farney, Agostinho dos Santos, Luiz Cláudio e etc e etc, tudo
saindo dos sulcos dos velhos e ainda atuais LPs, pensei: vou ser cantor. Ou
músico porque também ouvia o bandolim de Jacob, a flauta de Altamiro Carrilho,
o cavaquinho de Waldir Azevedo, o violão de Carlos Lyra e etc e etc. Nas aulas
do Ginásio 7 de Setembro as notas na matemática de William e na Geografia do
professor Coutinho eram ridículas. Mas eu não faltava às aulas de música da
professora Natércia, com notas das melhores nas provas escritas. Na prática, o
desafinado mostrava a cara. Ou a voz destrambelhada. Fim de linha.
Andei pensando em dar
braçadas no mar, nos açudes e nas piscinas. Decidido em fazer a travessia, a
nado, do cais da Tavares de Lira à Redinha, nos tempos em que não havia outro
caminho para se chegar à praia no lado oposto ao Potengi. Tudo parou no tiro
certeiro e irônico de Abmael Morais ao ouvir esta minha meta: “Você? Com este
físico de jogador de dama e gamão não atravessa o Poço do Dentão”.
Parei de tomar banho de
mar, passo longe dos açudes e só voltei à Redinha quando Cortez Pereira, em seu
governo, pavimentou a estrada que leva àquela praia. Fui de carro. Repórter de
jornal viajei na ilusão de em algum momento escrever um livro, mas consciente
de que precisaria ter uma boa caminha, ainda. Até o dia que encontrei o texto
de Joanilo de Paula Rego sobre Natal. Não era somente palavras sobre páginas de
papel. Tinha ritmo, era música.
Na imaginação surgiam
imagens, era fotografia. Era linda, era mulher. Natal maravilhosamente bela.
Era verso, era prosa. Olhei pro meu texto, era nada. O talento não me
acompanhava. Parei. Olho de novo o retrovisor do tempo e vejo Erivan, Chico
Januário, Joanilo e Eduardo Gaag, amigos com os quais convivi. No trabalho e
pelo talento deles, me conformo. Lembro, ouço, leio e bato palmas.
*Texto publicado na coluna do jornalista no Novo
Jornal
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