Walter Medeiros – Jornalista [waltermedeiros@supercabo.com.br]
No rumo da Via Costeira, à nossa frente um ônibus
nos traz boas lembranças de um tempo em que alimentávamos certos sonhos, alguns
realizados outros impedidos pelo curso indomável da vida. Era um ônibus de
turismo com a placa de Caetanópolis, Minas Gerais. A maior lembrança naquele
momento era de um churrasco que comemos naquela cidade em um restaurante com
bela decoração de bambu. Um churrasco inesquecível, num ambiente que era um
verdadeiro encanto. O lugar parecia o portal para um belo futuro.
Até chegar àquele lugar de Minas Gerais onde
passavam os ônibus de linha no rumo de Brasília, havíamos – Graça e eu
enfrentado dois dias de estrada a partir de Natal, por Caicó e demais cidades
por onde passavam os ônibus da Viação Planalto. Era a viagem de retirantes que
seguiam em busca de seus sonhos na capital federal.
Ao nosso lado um cidadão gordo com um neto de uns
sete anos chamado Cristiano, que comia tudo que se pode imaginar saído de uns
sacos e pacientemente diziam que estava perto de chegarem ao lar, em Itumbiara.
Redator da Rádio Planalto e free-lancer da Agência
Apoio, depois de uma promessa de emprego frustrada, eu insistia em ficar em
Brasília. Graça havia ingressado no SESC nacional como assistente social e se
sentia realizada com atividades junto a idosos. Morávamos numa casa de cômodos
– suíte - da W3-Sul, 706, em frente à Casa do Pão e a duzentos metros do
Restaurante Espanhol. Para nós era melhor que a distância do Guará, onde
poderíamos ter alugado um apartamento até por menos que o preço que pagávamos a
seu Jonas, um paulista de sotaque carregado.
Aquela viagem em 1979 nos levou a acompanhar
momentos importantes de Brasília, como as manifestações de solidariedade aos
presos políticos de Itamaracá, realizadas na Praça Goiás toda semana; a
primeira manifestação de professores do Governo do Distrito Federal, onde minha
falta de olfato por ser fumante me fez ficar parado enquanto a multidão se
dispersava, sem perceber o cheiro do gás lacrimogêneo aos meus pés; a chegada
da Anistia política; e as reações do regime militar.
Os parcos recursos de que dispúnhamos nos trouxeram
o benefício de conhecer Brasília e cercanias de forma espetacular. Todo fim de
semana tínhamos uma cidade satélite para visita e conviver com amigos. Dona
Ceci, em Sobradinho; Arlete, secretária de Henrique Eduardo Alves e seu marido,
Pinto, no Núcleo Bandeirante; alguém do Gama; e colegas de trabalho do próprio
plano piloto. Aí destacam-se Auxiliadora Targino e Amantino Teixeira; Alexandre
Cavalcante e Dulcinéia; e Vanilza e Edinho.
Brasília era tudo isso e muito mais para nós. Uma
vida de encontro no Venâncio 2000 ou no Conjunto Nacional; alguma noite no
Centro Gilberto Salomão; o pastel com caldo de cana da Rodoviária; a varanda do
aeroporto para assistir a partida dos conterrâneos que despachávamos. Do
restaurante Roma e da Escola da 302 onde faziam saraus os jovens poetas;
conhecemos e almoçamos com Sílvio Caldas, que amava Natal; e onde ouvíamos um
poeta dizer: “Minha namorada / viajou para Porto Alegre / e eu fiquei aqui a
ver Ministérios”.
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