Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Houve um tempo, e não faz tanto tempo assim, que um
despertador, que não era programado por mim, acabava meu sono naquela hora
limite entre a madrugada e a manhã. Coisa das 5 horas. Era um som que vinha da
rua, carregado de paixão e por isso mesmo, alegre. Era mais frequente nos
finais de semana. O som era invariável. Voz de menino, gritava: A-B-C-Ê. O
grito se repetia e seguia menos forte, se distanciando. O despertar assim, de
forma inesperada, não me aborrecia. Era um grito alegre e anunciava vitórias de
minha paixão alvi-negra.
Um determinado dia ouvi o grito de A-B-C-Ê, sem
muito entusiasmo, foi perdendo intensidade, afastou-se, foi. Esperei na semana
seguinte, nada. Semanas outras, silêncio. Acabou. Senti falta, mas não busquei
explicação, não tive tal preocupação. Terça-feira, esta última, acompanhava
pelos comentários no twitter e pelo aplicativo que nos atualizam sobre os
resultados dos jogos, a partida entre ABC e Icasa. O ABC perde. Mais uma. Os
jogadores brigam no intervalo da partida. Segundo tempo morto. Final de 2x1
para o Icasa.
Lembrei do grito matinal do menino e não tive mais
duvida: quem vai ter motivação, entusiasmo, vibração para gritar o nome de um
time que teima em não vencer, de não sair da lanterna? Não há medida para
frustração, mas a partir da minha, tomada como referência, imaginei a do dono
do grito que então era iluminado pelas vitórias. Imaginei-o andando ao longo da
rua, sofrendo a derrota da noite anterior, somadas às das semanas passadas, sem
conseguir gritar o nome de seu time. Vou esperar o dia da volta, o dia do novo
ABC, e de novo o grito anunciador da alegria.
*Texto
publicado na coluna do jornalista no Novo Jornal [Leia mais]
0 comentários:
Postar um comentário