Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
A manchete do Novo Jornal anuncia o que já se sabia
grande, mas faltavam referências para indicar seu real tamanho: “Ministério
aponta RN como líder em homicídios”. Quer dizer, somos o maior. Não bastasse a
informação, logo abaixo do título outro dado surpreendia: no Estado, 130
pessoas são assinadas a cada mês. Acabou? Não. Ontem, na coluna Roda Viva, o
interino Carlos Magno, pelas informações de sua redação, revela que em 149 dias
deste ano 711 pessoas morreram, vítimas da violência.
E então a gente se volta para as multidões que
invadem as grandes avenidas brasileiras. As pessoas pareciam, após os
cara-pintadas dos tempos de Collor, estar anestesiadas. Mas só pareciam.
Silenciosamente contabilizavam o tempo que passavam nas filas de ônibus, trens
e metrôs. O enorme desconforto que é usar aqueles transportes, os intermináveis
minutos entre o deixar o trabalho ou as escolas e chegar em casa, o cansaço.
Abria um arquivo e nele ia guardando o que sabia
pelos jornais impressos ou de televisão, pela mídia social, pelos comentários
de conhecidos ou por experiência própria, dos atendimentos nos postos de saúde.
A meninada reclamou e reclamou e reclamou da má qualidade do ensino, das
escolas desestruturadas, do calendário descumprido, da falta de professores.
Essas pessoas todas comentavam os episódios de corrupção. Agora, a inflação
bate à porta.
Vi, no jornal da televisão, o correspondente
anunciando que no exterior os jornais procuravam entender o que se passava no
Brasil. Eles, os do outro lado do oceano, certamente não leem nossos jornais.
Jornais de grandes e de menores cidades. Quando li quarta-feira que a Natal até
bem pouco tempo chamada de pacata é agora campeã em homicídios, compreendi
ainda mais o impacto da visão das multidões de 50, 65 e 100 mil pessoas se
espraiando pelas avenidas. As mazelas todas nos rodeam.
Constatar que temos hoje uma média que se aproxima
de cinco assassinatos a cada dia e que este tipo de violência vem sendo
anunciado e denunciado há tempos, nos leva a outra conclusão: em um momento
qualquer os gritos de basta se fariam ouvir. É muito, é demais para uma cidade
ou um Estado que sempre teve em seu povo a marca da cordialidade.
*Texto
publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL [Leia mais]
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