Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
O saudoso padre José Luiz contava uma história
curiosa. Dizia ele que lá pela primeira metade da década de 70 o então
governador Cortez Pereira falava a empresários sobre as perspectivas do Rio
Grande do Norte. Estudioso, conhecedor de nossas potencialidades, formidável
orador ele falava, com entusiasmo, sobre projetos de sua administração, o
camarão, vilas rurais, boqueirão e bicho da seda, entre outros. Na plateia
estava o senador e correligionário Dinarte Mariz que, em determinado momento da
palestra fechou os olhos e parecia dormir.
Ao final do evento, Dinarte Mariz cumprimentou
Cortez elogiando a fala dele, ao que o ex-Governador fez o contraponto,
lembrando que o correligionário não o escutara porque adormecera. Dinarte foi
rápido na explicação: ficara encantado com os projetos e fechara os olhos
antevendo as filas de caminhões descendo a Serra do Mel, carregados de castanha
de caju para abarrotar os navios no porto de Natal, levando o produto para o
sudeste brasileiro e para o exterior. Elogio ou fina ironia, ninguém nunca
saberá. Mas a castanha de caju, algum tempo depois, tornou-se um dos nossos
principais produtos de exportação.
Tudo isto aí está dito porque ouvi por estes dias,
num almoço do CDL que já virou tradição, o prefeito Carlos Eduardo detalhando
os projetos de sua administração, alguns surpreendentes até. São sistemas de
drenagens, o principal deles saindo do Arenas das Dunas para, depois de
tratadas as águas serem jogadas no Potengi. Projeto grande a ser concluído
antes da Copa de 2014. Falou do saneamento que a cidade receberá, em trabalho
conjunto com o governo do Estado.
Não ficou somente aí, anunciou solução para o
trânsito. Pavimentação, túneis, viadutos, sinalização, estacionamentos. Tudo
além da educação, saúde, limpeza pública. Antes, pelos jornais, já tinha lido a
decisão de construir um centro administrativo. Ouvia tudo aquilo no almoço e,
desta vez foi apenas um repórter já aposentado que fechou os olhos e ficou ali
sonhando: Natal e seu trânsito fluindo naturalmente, sem produzir estresse nos
motoristas. Adeus buzinas, zigue-zagues, gestos e gritos irritados dos pilotos.
O Paraiso.
Sonhava ali, em meio a um auditório que saboreava a
sobremesa, com uma Natal consumindo água saída das torneiras sem coliformes
fecais, com o nosso amado rio Potengi recebendo resíduos tratados. Imaginei os
parques de Natal, as escolas abarrotadas de alunos e de professores, o saber
chegando a todos. Claro, não precisei justiçar meus olhos fechados ao
palestrante ao final de sua fala, mas saí do ambiente torcendo para que tudo
aquilo fosse tão real quanto as castanhas de caju e os camarões de Cortez
Pereira.
0 comentários:
Postar um comentário