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sábado, 27 de abril de 2013

Metáfora mexicana

Por Jomar Morais
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br
 
É preciso chegar até aqui, na Cidade do México, para entender como uma metrópole com fama de ser uma das mais poluídas e inseguras do mundo consegue atrair anualmente 12 milhões de visitantes, entre nacionais e estrangeiros, mais que o dobro dos turistas estrangeiros que visitam o Brasil em igual período. A soma de uma forte identidade histórica com uma modernidade esfuziante, mais uma excelente infraestrutura de serviços e preços acessíveis estão na base desse sucesso.
 
A Cidade do México é Tenochtitlán, fundada em 1325 e coração do império dos mexicas, a confederação asteca. Seu centro administrativo e comercial ainda é o mesmo da época de Montezuma II, o imperador defenestrado pelo conquistador espanhol Hernan Cortés, em 1520. Seu entorno é rico de fragmentos históricos e arqueológicos, como as impressionantes pirâmides de Teotihuacan, a cidade misteriosa erguida no ano 100 a.C. e abandonada por seus habitantes desconhecidos por volta do ano 750.
 
Ao mesmo tempo, a capital do México é um exemplo de moderna arquitetura urbanística e funcional, com avenidas largas e bem traçadas, edifícios de linhas futuristas, uma centena de museus e a quarta concentração de teatros do mundo. A cidade é jardim e galeria de arte a céu aberto, graças aos seus muitos parques e esculturas que contam a história tumultuada da nação mexicana, repleta de perdas - primeiro para os espanhóis, depois para os Estados Unidos, a quem cedeu parte de seu território.
 
Sim, o México é complexo, contraditório e excitante. Mas, ao escalar a portentosa pirâmide da Lua, em Teotihuacan, preferi meditar sobre o ocaso asteca em meio a um episódio de perda de identidade.
 
Quando Hernan Cortés chegou a Tenochtitlán, o imperador Montezuma II, um sacerdote, tomou-o como a materialização do deus Quetzalcoatl que retornava para destruir os mexicas. Acolheu-o em sua casa, tentou agradá-lo com presentes ornados a ouro e prata e, por último, submeteu-se à Coroa espanhola e passou a estudar o Catolicismo, num esforço desesperado para introduzir Cristo no panteão asteca. Mesmo assim, caiu e foi assassinado, ao rebelar-se contra os altos impostos.
 
Nessa época, ciente da humanidade de Cortés, Montezuma teria se indignado com o rito da eucaristia, por não entender como os espanhóis comiam a carne de seu deus, enquanto os astecas ofereciam coração e sangue humanos às suas divindades. É uma afirmação emblemática até mesmo para os nossos dias de desconexão espiritual e mesquinho individualismo.
 
Tenochtitlán ainda tentou resistir, mas já era tarde. Astecas, maias e incas seriam pilhados e devastados, ao preço de muitos sacrifícios humanos aos deuses Cobiça e Preconceito.
 
*Texto publicado na edição de terça-feira no NOVO JORNAL
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