Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Final do expediente de trabalho, o segundo. Para a
maioria, quando o relógio indica 18 horas, é o momento de fechar as gavetas da
mesa, deixar papelada em ordem, ajeitar a cadeira, desligar a luz e se mandar.
Outros, a minoria, esperam mais alguns minutos, uma hora mais, para deixar a
sala. O ritual da volta pra casa prossegue no ônibus ou no carro. Naquele ou
neste, para seu ocupante ou ocupantes, as ruas se mostram vivas, movimentadas,
cheias de gente, filas, cruzamentos de ruas abarrotados de automóveis, um
tumulto que os semáforos tentam organizar. E permanece assim até o momento de
chegar em casa.
Domingo, 7 horas da noite. O amigo perdera a missa
da manhã saíra em busca do perdão dos pecados à noite. Deixou a igreja depois
de receber a bênção do sacerdote que vem acompanhada dos votos de uma feliz
semana. Tomou o rumo de casa, mas deixou, antes, os 50 centavos com o
“guardador” do carro. O espírito da bondade indicou para que agisse assim.
Chegou, ouviu a música que saía da TV indicando que estava ligada no Faustão e
preferiu telefonar aos amigos. Parecia melancólico e começava falando daquilo
que está escrito ali no primeiro parágrafo, a vida nas ruas nos dias de semana.
Depois, descrevia o trajeto feito nessa noite de
domingo, da igreja até abrir o portão da garagem. Uma noite de domingo sem
gente nas calçadas, nas faixas de pedestre, nas ruas. O trânsito absolutamente
tranquilo, sem acelerações, sem buzinas e sem xingamentos, barulho zero. Não
precisou desacelerar o carro porque alguém atravessava, apressado, à sua frete.
Não saiu de uma faixa para outra, não havia outros carros e marcha mais lenta
para ultrapassar. Não reclamou da demora, nem falou mal dos motoqueiros mais
afoitos. Foi tudo tranquilo, fácil demais.
Chegou rápido em casa. No telefone, em contradição
com toda essa história, não parecia feliz, a narração de toda essa facilidade
não guardava alegria. Terminou por fazer a comparação: preferia, dizia, o
tumulto da volta do trabalho nos dias de semana. Via gente, via carros, via
luz, vida. Nada disso vira no caminho da igreja para casa. Curioso, ao final da
ligação, fui à rua para entender melhor aquela conversa. Só silêncio, alguma
claridade por trás dos muros altos que protegem casas e prédios de
apartamentos. O silêncio quebrado apenas pelo barulho do motor do carro. Antes
que batesse a melancolia decidi voltar. Tirei da caixa o CD do Casuarina e,
desafinado, cantei com eles. Um santo remédio.
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