Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Menino ainda, batendo bola nos areais das ruas sem
asfalto ou paralelepípedos, morando na Mossoró e estudando no grupo escolar
Áurea Barros, na Afonso Pena, minhas missas dominicais se alternavam entra a
capela do colégio Maria Auxiliadora e a igreja de Santa Terezinha. Mais vezes
na primeira mas era na outra que meus olhos infantis eram impressionados pela
torre que fazia da casa de orações da Rodrigues Alves o prédio mais alto pelas
bandas de Tirol e Petrópolis. Inexistiam os edifícios. O coração também acelerava
quando, à frente da Igreja, olhava, encantado, a gruta construída em pedras
reproduzindo a aparição de Nossa Senhora de Lourdes à pastora. Estavam lá as
duas imagens mexendo com a imaginação e a fé do menino. Na nave o que
impressionava eram os vitrais iluminados pela luz solar. Tudo parecia muito
grande. Por isso as missas na Santa Terezinha me deixavam mais atento.
Passei muito tempo frequentando aquela construção
porque, já adolescente era no salão paroquial que ia treinar, praticamente
todos os dias, o tênis de mesa (àquele tempo ping-pong) com o grupo que tocava
o Clube Juvenil de Recreação e que vez por outra se reunia para ouvir as
palestras ricas em ensinamentos do saudoso padre Manoel Barbosa. O hábito, a
rotina, fixava em mim a imagem da gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Era uma
presença quase diária. E não apenas eu. Era frequente a presença de pessoas a
olhar e reverenciar a santa. Por vezes, mulheres de terço à mão e de joelhos.
Sumi, muito tempo sem voltar à igreja. Vez por outra
chegava, convidado para assistir um casamento ou batizado. E sempre me
apresentava à gruta, então já sem o encantamento de antes mas mantendo o
costume dos tempos de menino. Só não entendia porque, na paróquia de Nossa
Senhora das Graças e de Santa Terezinha, aquela imagem era de Nossa Senhora de
Lourdes. Também não me ocorreu de pedir explicações.
E assim foi por muito tempo. Quarta-feira, essa
última, enquanto aguardava a hora de uma consulta médica ali próxima, saí
andando pelas ruas próximas, olhando o mundo. Parei na Santa Terezinha pintada
de novo, detalhes que a deixam mais moderna, mais bonita. Reação seguinte,
contornei o prédio e o olhar foi direto para a área onde ficava a gruta. Nada.
Sumiu. Certamente era brega e estava em choque com os novos detalhes. Estou
chutando, claro, não sei a razão. Mas certamente pareceria um corpo estranho em
meio aos traços de modernidade. Sem discussão. Sequer sei quando foi arrancada
dali. Mas o primeiro impacto em mim foi de mutilação. Desaparece de minhas
lembranças uma das imagens que certamente mais impressionara à retina do
menino. Saí ruminando as lembranças e, quando em casa, fui direto ao livro “Nas
veredas do tempo” em que o advogado e escritor Eider Furtado, trabalha a
memória da cidade. E estavam lá, a Igreja e a gruta em fotografia. A imagem,
felizmente e graças ao Dr. Eider, estava preservada.
*Texto
publicado
na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
0 comentários:
Postar um comentário