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sábado, 23 de março de 2013

A surpresa foi grande, a gruta e a santa sumiram

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
Menino ainda, batendo bola nos areais das ruas sem asfalto ou paralelepípedos, morando na Mossoró e estudando no grupo escolar Áurea Barros, na Afonso Pena, minhas missas dominicais se alternavam entra a capela do colégio Maria Auxiliadora e a igreja de Santa Terezinha. Mais vezes na primeira mas era na outra que meus olhos infantis eram impressionados pela torre que fazia da casa de orações da Rodrigues Alves o prédio mais alto pelas bandas de Tirol e Petrópolis. Inexistiam os edifícios. O coração também acelerava quando, à frente da Igreja, olhava, encantado, a gruta construída em pedras reproduzindo a aparição de Nossa Senhora de Lourdes à pastora. Estavam lá as duas imagens mexendo com a imaginação e a fé do menino. Na nave o que impressionava eram os vitrais iluminados pela luz solar. Tudo parecia muito grande. Por isso as missas na Santa Terezinha me deixavam mais atento.
 
Passei muito tempo frequentando aquela construção porque, já adolescente era no salão paroquial que ia treinar, praticamente todos os dias, o tênis de mesa (àquele tempo ping-pong) com o grupo que tocava o Clube Juvenil de Recreação e que vez por outra se reunia para ouvir as palestras ricas em ensinamentos do saudoso padre Manoel Barbosa. O hábito, a rotina, fixava em mim a imagem da gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Era uma presença quase diária. E não apenas eu. Era frequente a presença de pessoas a olhar e reverenciar a santa. Por vezes, mulheres de terço à mão e de joelhos.
 
Sumi, muito tempo sem voltar à igreja. Vez por outra chegava, convidado para assistir um casamento ou batizado. E sempre me apresentava à gruta, então já sem o encantamento de antes mas mantendo o costume dos tempos de menino. Só não entendia porque, na paróquia de Nossa Senhora das Graças e de Santa Terezinha, aquela imagem era de Nossa Senhora de Lourdes. Também não me ocorreu de pedir explicações.
 
E assim foi por muito tempo. Quarta-feira, essa última, enquanto aguardava a hora de uma consulta médica ali próxima, saí andando pelas ruas próximas, olhando o mundo. Parei na Santa Terezinha pintada de novo, detalhes que a deixam mais moderna, mais bonita. Reação seguinte, contornei o prédio e o olhar foi direto para a área onde ficava a gruta. Nada. Sumiu. Certamente era brega e estava em choque com os novos detalhes. Estou chutando, claro, não sei a razão. Mas certamente pareceria um corpo estranho em meio aos traços de modernidade. Sem discussão. Sequer sei quando foi arrancada dali. Mas o primeiro impacto em mim foi de mutilação. Desaparece de minhas lembranças uma das imagens que certamente mais impressionara à retina do menino. Saí ruminando as lembranças e, quando em casa, fui direto ao livro “Nas veredas do tempo” em que o advogado e escritor Eider Furtado, trabalha a memória da cidade. E estavam lá, a Igreja e a gruta em fotografia. A imagem, felizmente e graças ao Dr. Eider, estava preservada.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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