Página de papel
Por François Silvestre* - fs.alencar@uol.com.br
Há uma profecia sobre o fim dos jornais de papel. Há
quem afirme ser inevitável o fim dos jornaleiros, a morte romântica da primeira
forma democrática de acesso universal à informação. Dos primeiros éditos
públicos, lidos na praça, para informar decisões soberanas ou leilões de bens
incorporados ao patrimônio público por deserção sucessiva ou punição
patrimonial; da invenção do tipo impresso, o jornal foi o mais mimoso rebento
da democracia.
O maior inimigo dos tiranos. O maior aliado dos
tiranos. Às vezes, apoiador de golpes de Estado; como ocorreu ao “legitimar” a
quartelada de 1964 e dela tornar-se vítima, para voltar ao estuário natural de
guardião das liberdades públicas.
Essa conversa de fim do jornal no papel, na sua
forma sensitiva do tato, sujando os dedos de tinta, quando mal saído do forno
da redação, parece repetição de outras profecias de calendas e calendários.
Uma delas foi o fim do circo, após nascer do cinema.
O circo morreu, mas o óbito não foi culpa do cinema. Ambos viveram juntos por
muito tempo. Um fixo, nas ruas de cidades médias e vastos nas cidades grandes.
O outro, mambembe na poeira das estradas, baixando a tenda de festa nas bibocas
guardadoras das esporas cão.
Os cinemões das ruas morreram. Encurralados agora
nos shoppings ou recintos restritos. Nas cidades médias simplesmente sumiram.
No centro de São Paulo, região de Santa Cecília até a
Bela Vista, do Arouche ao Paissandu, havia uma infinidade de cinemões. Olido,
República, Ipiranga, Ouro, Ritz, São João, Comodoro, Galeria e mais outros. Só
resta o Marabá. Se é que ainda resta. Viraram igrejas, na feira dos milagres.
Profetizaram o fim do rádio, após a televisão.
Caíram do cavalo; o rádio taí.
Destino triste tiveram as publicações dos “Diários
Associados”, império jornalístico de Châteaubriant e mantido depois dele por
muito tempo. Dentre os finados está o Diário de Natal, que dominou a cena
noticiosa no Estado, sob a regência de Luiz Maria Alves. Escola de redação que
formou inúmeros jornalistas, alguns ainda em atividade.
Um hábito daqueles tempos, cá na província, de não
circularem os jornais às Segundas-Feiras, é mantido ainda hoje. Tanto que um
semanário foi criado só para esse dia.
Quem apostou que este Novo Jornal seria apenas uma
publicação circunstancial, fruto de um momento eleitoral, quebrou a cara.
Quando vou a Natal, ouço, por onde ando elogios à criação de Cassiano. Comprovantes
do sucesso e êxito do Novo Jornal.
Não tenho acesso ao jornal de papel, sou de longe.
Pela net, leio-o das Terças aos Sábados, a página Opinião não é atualizada aos
Domingos e eu perco o direito de lamber a cria.
Viva o papel, a tinta largada e o jornal velho para
embrulhar vidros e não quebrar ovos. Té mais.
*Texto publicado
no NOVO JORNAL
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