CARTAS DE COTOVELO (2013.1)
Por Carlos Roberto de Miranda Gomes,
escritor-veranista*
Mais um veraneio começa na região nordestina, tendo
o condão de atropelar o calendário dos negócios e das coisas mais sérias do ano
que se inicia, perdurando até o carnaval.
Veranear não deve ter a compreensão simplória dos
dicionários, como simples lugar distinto da residência, geralmente nas praias,
serras, lagos ou montanhas, conforme a localidade onde cada um vive.
Sua real característica permite revigorar a força
física, fazer um hiato na labuta cotidiana e um reencontro com a paz interior.
Dou-me a esse deleite desde os idos de 1947, que
começou na Barra do Cunhaú, depois na Redinha, por muitos anos e há mais de
quatro décadas na praia de Cotovelo, onde encontrei o meu “Nirvana” espiritual.
A visão do veraneio varia com a idade. Quando
criança, nada mais do que o lazer dos banhos à toda hora, pescarias e
caminhadas.
Na adolescência, prepondera a convivência fraternal
com os amigos e amigas, alguns folguedos, no bom sentido e os primeiros
eflúvios do amor.
Faz-me, lembrar um filme que se passou num veraneio
em uma praia italiana, onde um garoto, mais ou menos da minha idade (16 anos),
interpretado pelo ator Gino Leurini realizou a sua primeira aventura amorosa,
com uma “Donna” mais velha que ele, que o transformaria psicologicamente para a
vida, tal a intensidade de sentimento naquela descoberta. Isso também me
impregnou até os dias presentes, embora neste instante da vida, somente pelo
desejo de conseguir de algum colecionador uma cópia daquela película “Amor de
Outono”. Ainda tenho a esperança de conseguir!
Ao chegar a maturidade aflora a fraternidade, numa
convivência harmoniosa entre a família e amigos. Esta é a fase mais duradoura,
permitindo impulsos de criatividade intelectual e habilidades manuais nos
campos da pintura, marcenaria, hidráulica e eletricidade, nem sempre bem
sucedidas!
Mas quando se atinge a terceira idade, se eleva
acentuadamente o pendor romântico e literário, pelas lembranças dos momentos
vividos e felizes, dando a tudo uma visão especial, seja de um beija flor, um
búzio, um luar ou qualquer outra visão do belo e do bom.
No veraneio leio vorazmente e escrevo com o mesmo
apetite, entrecortados com uma geladinha ou scotch com água de coco.
Foi num veraneio na Redinha, que aprendi uma canção
da autoria do meu pranteado irmão Fernando, composta quando ainda adolescente,
que tem a seguinte letra:
REDINHA, praia linda e sem igual.
Poema lírico e imortal, onde nasceu nosso amor.
REDINHA, em teus recantos lindos,
Lembra-me o tempo de menino
Colhendo búzios em multi-cor.
REDINHA, de casas de palha e bangalô,
Onde não há escravo nem senhor,
Todos ali são iguais.
REDINHA volto de novo ao teu seio,
Para viver sem receio
Aqueles tempos ideais.
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