Nascido
na mesma data do apóstolo São Paulo, o potiguar Luiz Maranhão também fora perseguido
e martirizado e teve o seu fim na cidade que recebeu o nome do maior apóstolo
de Cristo. A referência é do blog. Abaixo, uma transcrição do artigo do
historiador Alexandre de Albuquerque
Maranhão sobre os 92 anos de Luiz Maranhão, publicado na Tribuna
do Norte desta sexta, 25 de janeiro:
92 anos de Luiz Maranhão
Alexandre
de Albuquerque Maranhão - historiador
Militante político de qualidade insuperável, que
acreditava profundamente no diálogo e no respeito as diferenças. A figura
humana de Luiz Maranhão Filho continuará sendo para sempre a verdadeira
representação da solidariedade e do respeito mútuo entre as pessoas. Abdicou de
uma vida sossegada e bem remunerada para lutar incansavelmente contra a
opressão, as desigualdades sociais e qualquer tipo de discriminação e
preconceito entre as pessoas. Verdadeiro patriota, digno de respeito e
admiração.
Luiz Maranhão nunca desrespeitou seus adversários
políticos. Costumava citar uma frase de Bertold Brecht: “não somos melhores do
que ninguém. Melhor é a nossa luta”. Também não criticava os companheiros que
deixavam para trás a luta política. E afirmava: “para que fazer acusações ou
críticas? A medida da coragem de um homem não é a sua ideologia. É ele mesmo”.
Nunca disseminou o ódio e o pavor contra aqueles que os torturou seguidas
vezes. E não foram poucas as atrocidades cometidas contra ele.
Lutou desde sua adolescência pelas liberdades
democráticas, através do Partido Comunista Brasileiro, o qual se filiou em
1945. Participou ativamente a favor da “Campanha do Petróleo é Nosso”,
promovendo comícios, passeatas e distribuindo de forma clandestina exemplares
do jornal Emancipação junto com Djalma Maranhão. A ordem do governo era
apreender tudo que falasse a favor do monopólio estatal do petróleo. Foi
militante ativo também da “Campanha da Borracha”, contra a guerra da Coréia,
contra o nazi-fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, de todos os movimentos
e manifestações populares que defendiam a soberania do Brasil, a
autodeterminação dos povos, a liberdade e a democracia. Renunciou a toda e
qualquer forma de vida social para lutar pelo que acreditava e defendia. Dizia
que: “há de chegar um tempo em que as pessoas não irão passar privações e
deixarão de existir as desigualdades”. Morreu (desapareceu) acreditando nisso.
Não deixou herdeiro político. Sua vida atribulada, a
intensa atividade política e a clandestinidade não lhes deu o direito de ter
uma vida em comum com sua amada esposa Odette Maranhão. Tiveram uma vida de
sacrifícios, de agonia e de saudades um do outro.
Luiz Maranhão é dessas raríssimas exceções da vida
política-partidária de nosso país: coerente, íntegro e honesto. A prática de
sua vida cotidiana era o reflexo do que ele pensava e defendia. Democrata no
sentido mais amplo: não tinha preconceitos político-ideológicos. Interagia com
os militantes sociais de outros credos, de todos os partidos, semeando sempre a
tolerância e amizade. Figura querida e bastante respeitada como político,
professor de História e Geografia do Colégio Ateneu, advogado e jornalista.
A cota de sacrifício desse bravo e destemido
militante político foi enorme e inconcebível. Preso pela primeira vez pelas
forças conservadoras em 13 de janeiro de 1948, por ter feito críticas a postura
reacionária do governo do presidente Dutra, no jornal Folha Popular, editado em
Natal. Pela segunda vez, em dezembro de 1952, foi torturado durante quinze dias
na Base Aérea de Natal, por ter denunciado através de reportagens no jornal A
Folha do Povo, de Recife, os maus tratos aos presos políticos naquele comando
militar. Que mal teria feito esse homem para ser torturado e perseguido tantas
vezes? Logo ele que era um defensor incansável da justiça social, da paz, da
união entre cristãos e marxistas. Que disseminou a solidariedade entre os
povos, a liberdade de expressão e o respeito as diferenças.
Mesmo enfrentando tantas adversidades ao longo de
sua vida, Luiz Maranhão nunca aceitou a ideia de deixar o Brasil. Suas energias
estavam voltadas para a criação da Frente Ampla, junção das mais diversas
forças políticas para derrotar a ditadura militar. Como também continuava dialogando
com os setores progressistas da Igreja Católica para por fim à crise política
brasileira, que endurecera no final dos anos de 1960 e durante a década de
1970.
Ajudou com sua vida e com sua morte a derrotar a
ditadura militar instalada no Brasil em 1964. Durante todo o período desse
difícil e arriscado trabalho, Luiz Maranhão não era visto num mesmo domicílio
dormindo duas noites seguidas. Seus algozes não o deixavam em paz. Até que em
27 de março de 1974, ele foi visto pela última vez, na cidade de São Paulo,
quando uma patrulha do Exército o prendeu. O governo brasileiro nunca deu a
Odette Maranhão qualquer notícia sobre o paradeiro de seu marido.
O desaparecimento desse norteriograndense, nascido
em Natal no dia 25 de janeiro de 1921, foi uma perda irreparável para o nosso
estado, no aspecto político, ético e moral. Sua ausência na Política do Rio
Grande do Norte e do Brasil deixou uma lacuna grandiosa, que até os dias atuais
não foi preenchida e por muitos anos ainda permanecerá aberta.
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