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sábado, 29 de dezembro de 2012

Um floco de neve

Por Jomar Morais*
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br
 
Nossa manhã do Natal é ensolarada e ardente e, se você me encontrou nas páginas da edição impressa ou na tela futurista de seu tablet nesta etapa do dia, talvez ainda empanturrado pelos excessos da véspera, eu lhe peço: sente, respire, contemple o azul do céu e as nuvens que se movimentam serenas e só depois, sentindo o refrigério que a tranquilidade proporciona mesmo nos dias mais tórridos, retorne à leitura deste texto.
 
Na manhã calorenta de nosso Natal, eu queria lhe falar de neve, um simples floco de neve. E, então, convidá-lo para extrairmos juntos de uma fábula do livro “New Fables: Thus Spoke the Caribou”, de Kurt Kauter, publicada pela revista Thot em 1993, uma inspiração e um estímulo para a caminhada no ano novo que vem aí.
 
O conto singelo e conciso é especialmente útil para quem desacreditou ou sequer ainda despertou para a importância dos pequenos gestos e ações na construção do mundo e na realização da utopia.
 
* * *
 
- Sabes me dizer quanto pesa um floco de neve? - perguntou um pardal a uma pomba silvestre.
 
- Nada de nada - foi a resposta.
 
- Nesse caso vou lhe contar uma história maravilhosa - disse o pardal. Eu estava sentado no ramo de um pinheiro quando começou a nevar. Não era nevasca pesada ou furiosa. Nevava como em um sonho: sem ruído nem violência. Já que não tinha nada melhor a fazer, pus-me a contar os flocos de neve que se acumulavam nos galhos e agulhas do meu ramo. Contei exatamente 3.741.952. Quando o floco número 3.741.953 pousou sobre o ramo – nada de nada como você diz – o ramo se quebrou.
 
Dito isso, o pardal partiu em voo.
 
A pomba, uma autoridade no assunto desde Noé, pensou um pouco na história e finalmente refletiu:
 
- Talvez esteja faltando uma única voz para trazer paz ao mundo.
 
* * *
 
Pense nisso.
 
Aprendemos a superestimar o papel das instituições e do poder constituído, como se a essência deles emanasse de estruturas materiais, leis e armas – e não dos indivíduos, suas crenças, valores e atitudes.
 
Queremos mudar o mundo e melhorar a vida confinando-nos no conforto da espera passiva ou da indignação artificial, que se esgota na crítica pela crítica, enquanto no dia a dia validamos e fortalecemos com nossas escolhas e ações da vida pessoal tudo aquilo que combatemos nas tribunas, nas mesas de bar e nas redes sociais.
 
No fundo, seguimos descrentes de nós próprios, sentados nos tronos de nossos apartamentos, esperando a morte chegar, como diria o rebelde Raul Seixas. Nada de nada é o peso que atribuímos ao exemplo e a persistência de cada homem no lugar e na posição a que foi chamado pela vida.
 
Nosso floco de neve, no entanto, atua e faz pressão e pode ser o suficiente para romper o galho de velhos vícios.
 
Feliz 2013!
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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