Por Albimar Furtado*
Jornalista ▶ albimar@superig.com.br
Um dia, já vai longe esse dia, Paulinho da Viola
disse em um de seus sambas que “As coisas estão no mundo/ Só que eu preciso
aprender”. É assim, tem gente que não precisa buscar muito para enxergar as
coisas e, mais do que isso, sabe transmiti-las da maneira simples, sem
complicação e com eficiência. Depois de ouvir Coisas do Mundo Minha Nega a
gente vai percebendo que, de fato, as coisas estão aí, bem à nossa frente.
Tudo. Faça parte de uma fila, qualquer fila –de ônibus, de bilheteria de
cinema, de banco, nas salas de espera- e abra os ouvidos às histórias que
rolam, dessas que fazem parte da vida de todo mundo. Histórias que vêm de
pessoas que se dirigem a um amigo(a), desejando que todos ouçam sua narração.
Segunda-feira eu voltei, como faço de vez em quando,
à fila do banco. Tirei a ficha, daquelas de quem já passou –e muito-, dos 60 e
fiquei aguardando minha vez. Próximo a mim dois jovens, um deles de gestos
largos, falante, conversando alto. Desinibido, anunciava o fim do namoro com a
menina por quem, com a maior naturalidade, revelava ser apaixonado. Deu
bobeira, confessou também, e a culpa foi do computador, mais precisamente, da
internet. Por um minuto fiquei matutando: a mesma internet que aproxima,
provoca namoros e até casamentos, também separa. O personagem da fila do banco
se gabava pela conquista virtual, mas também chorava o leite derramado, o
namoro findo. Repetia sua paixão e pedia ajuda. O amigo apenas ria e não
parecia ser dos que levam jeito para articular um reencontro. Depois de ouvir
repetidas vezes o ”eu gosto muito dela”, já parecendo um refrão de música
sertaneja, prometeu que tentaria reverter a situação.
O rapaz apaixonado sorriu feliz e me flagrou olhando
–e, claro, ouvindo-, a conversa dos dois. “Tô certo, né não tio? Se eu gosto
tenho de correr atrás”. Meio sem graça, consenti movimentando a cabeça. Até
pensei sugerir que ele mandasse pelo amigo a letra do samba de quase 45 anos,
Benvinda, de Chico Buarque, que canta em louvação: “Ai, Benvinda/ Ai que bom
que você veio/ E você chegou tão linda/ Eu não cantei em vão...”. Só pensei.
Permaneci quieto no meu canto aprendendo, como manda Paulinho da Viola, com as
histórias que estão no mundo. Fiquei matutando como é bom e bonito você revelar
pra todo mundo e sem cerimônia, o seu amor. Ao redor, todos olhavam e
concordavam, solidários. Que me perdoe o rapaz apaixonado da fila do banco por
contar sua história de amor. Pra compensar, fiquei torcendo por um final em que
ele pudesse cantar o samba de Chico Buarque.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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