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sábado, 8 de dezembro de 2012

Perdeu um grande amor e a culpa foi da internet

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
Um dia, já vai longe esse dia, Paulinho da Viola disse em um de seus sambas que “As coisas estão no mundo/ Só que eu preciso aprender”. É assim, tem gente que não precisa buscar muito para enxergar as coisas e, mais do que isso, sabe transmiti-las da maneira simples, sem complicação e com eficiência. Depois de ouvir Coisas do Mundo Minha Nega a gente vai percebendo que, de fato, as coisas estão aí, bem à nossa frente. Tudo. Faça parte de uma fila, qualquer fila –de ônibus, de bilheteria de cinema, de banco, nas salas de espera- e abra os ouvidos às histórias que rolam, dessas que fazem parte da vida de todo mundo. Histórias que vêm de pessoas que se dirigem a um amigo(a), desejando que todos ouçam sua narração.
 
Segunda-feira eu voltei, como faço de vez em quando, à fila do banco. Tirei a ficha, daquelas de quem já passou –e muito-, dos 60 e fiquei aguardando minha vez. Próximo a mim dois jovens, um deles de gestos largos, falante, conversando alto. Desinibido, anunciava o fim do namoro com a menina por quem, com a maior naturalidade, revelava ser apaixonado. Deu bobeira, confessou também, e a culpa foi do computador, mais precisamente, da internet. Por um minuto fiquei matutando: a mesma internet que aproxima, provoca namoros e até casamentos, também separa. O personagem da fila do banco se gabava pela conquista virtual, mas também chorava o leite derramado, o namoro findo. Repetia sua paixão e pedia ajuda. O amigo apenas ria e não parecia ser dos que levam jeito para articular um reencontro. Depois de ouvir repetidas vezes o ”eu gosto muito dela”, já parecendo um refrão de música sertaneja, prometeu que tentaria reverter a situação.
 
O rapaz apaixonado sorriu feliz e me flagrou olhando –e, claro, ouvindo-, a conversa dos dois. “Tô certo, né não tio? Se eu gosto tenho de correr atrás”. Meio sem graça, consenti movimentando a cabeça. Até pensei sugerir que ele mandasse pelo amigo a letra do samba de quase 45 anos, Benvinda, de Chico Buarque, que canta em louvação: “Ai, Benvinda/ Ai que bom que você veio/ E você chegou tão linda/ Eu não cantei em vão...”. Só pensei. Permaneci quieto no meu canto aprendendo, como manda Paulinho da Viola, com as histórias que estão no mundo. Fiquei matutando como é bom e bonito você revelar pra todo mundo e sem cerimônia, o seu amor. Ao redor, todos olhavam e concordavam, solidários. Que me perdoe o rapaz apaixonado da fila do banco por contar sua história de amor. Pra compensar, fiquei torcendo por um final em que ele pudesse cantar o samba de Chico Buarque.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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