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sábado, 15 de dezembro de 2012

Conhece Alberi? Quem não conhece o Negão?

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
Quem é rei nunca perde a majestade. Coisa mais batida, né? Absolutamente vazia de criatividade. Ninguém aguenta mais. Mas é isso aí mesmo que vou usar, seja por falta de talento para construir outra imagem ou por considerar que nada expressa melhor o meu sentimento do que repetir a frase já exaustivamente dita. Negócio seguinte: uma dor de cabeça que já me perturbava por três dias me fez sair do meu trabalho e ir rápido à farmácia na busca do analgésico milagroso que me devolvesse a sensação de conforto. Vou chegando à farmácia, aquela ali da esquina da rua da Saudade com a Rui Barbosa e a visão se volta, surpresa, para o criolão que deixava o local. Alto, esguio, elegante, cabelos já brancos, mas guardando ainda os traços daquele que por cerca de 15 anos era tema predileto nas rodas de conversas em qualquer canto da cidade.
 
Muitos anos depois, sei lá quantos, revia o rei do Castelão/Machadão, Alberi. Não fiz reverência à sua passagem, mas não seria qualquer favor se o fizesse. Afinal, eram suas pinturas, no domínio da bola, que enchiam de alegria uma grande galera nas tardes de domingo ou nas noites das quartas feiras no finado estádio. Um lançamento longo, um drible curto, uma tabela progressiva, um gol de placa. Ele era o rei. Fui editor de esportes, fiz entrevistas com o Negão, escrevi as matérias de grandes jogos. Um deles, o ABC e Santos, que o Novo Jornal relembrou agora. Estavam lá Pelé e Alberi. Fui um dos 52 mil privilegiados daquela noite.
 
Não era apenas ver os jogos. Era fácil escrever sobre o futebol quando Alberi estava em campo. Os dedos corriam mais soltos nas teclas das velhas máquinas Remington, recompondo cenários. Fiz, com ele, uma das matérias que mais gostei de fazer. Cruel matéria: Alberi contratado pelo América, abdicando da condição de ídolo do meu ABC. A responsabilidade profissional se impunha. Não me contentei apenas com a entrevista, mostrando todas as circunstâncias da transferência, da mudança de camisa. A imagem precisava ser mais forte. Propus que fosse fotografado vestindo a nova camisa, a vermelha do América. Mais que isso, que fôssemos para frente da sede do clube, na Rodrigues Alves. Aceitou. Clovis Santos, repórter fotográfico dos bons, caprichou: Alberi em primeiro plano e o colosso ao fundo, mostrando o enorme escudo do clube. Não deu outra, foto de primeira página, valorizada por João Neto, o comandante da redação do Diário de Natal, americano roxo.
 
Ali na farmácia não pensei em pará-lo, cumprimentá-lo. Não se pára um rei, mesmo depois de passar o trono (para quem? Quem o substituiu?) por qualquer coisa. Enquanto o ídolo seguia em direção ao carro a imaginação veloz me levava de volta ao campo de treino do ABC, em Morro Branco, ou ao Machadão. Ao aprendizado na editoria de esportes. O carro partiu e a moça do caixa que atenta acompanhava a cena, deu o mote para estas linhas: “Conhece Alberi? Quem não conhece, né?”.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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