Seis ou sete anos após uma das primeiras reportagens
para o desativado semanário JORNAL DE NATAL o repórter verifica o mesmo
entusiasmo e mesma determinação do funcionário público federal Francisco de
Assis Gomes, o ‘Raul do Mamulengo’, 58 anos, um dos 43 bonequeiros em atividade
no Rio Grande do Norte, em resgatar a cultura popular potiguar. Três horas de
conversa é muito pouco tempo para um homem que vai desfiando reminiscências, da
infância e adolescência no interior do estado, e do convívio com os mais velhos.
A época, depois de ser entrevistado pelo diário
vespertino O JORNAL DE HOJE, Raul do Mamulengo, contou a história de sua origem
– é natural do município de São Tome (RN) -, de como chegou a capital
norte-rio-grandense, Natal, “sem um saco, pois não tinha roupa para tanto”,
onde, depois de servir o Exército (1976), ingressou como motorista na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN) (1 de agosto de 1978). Daí
não parou mais com entrevistas pela imprensa e pela televisão, inclusive no diário
matutino Tribuna do Norte (caderno Viver, 31/10/2010).
Hoje ele continua com a mesma aptidão para
apresentações e feitura de bonecos artesanais exclusivos, criação de novos
personagens, e com um novo projeto em mente, o aproveitamento de um espaço na
área da casa para o surgimento de uma galeria de arte popular, não só para
exposição de bonecos, como para trabalhos artesanais feitos com material
reciclado da natureza, tendo como exemplo as cabaças, que ainda são usadas no
interior nordestino para o transporte de água, e são transformadas em cabeças
de pássaros coloridas.
Raul tirou o apelido artístico de um personagem
real, conhecido como Raul Capitão, que, pobre, ‘descobriu’, quase por acaso uma
mina de scheelita na pequena propriedade rural que tinha no município de Lages
do Cabugi. Esta pessoa, já falecida, era natural de São Tomé, e chegou a passar
alguns anos na antiga Penitenciária Central João Chaves, na estrada da Redinha
(Avenida João Medeiros Filho), e desativada para a construção do presídio de
Alcaçuz, no município de Nísia Floresta (Litoral sul).
Recebe a dupla de repórteres como todo nordestino
gosta. Com mesa farta: “É para não sair falando mal…” Logo pede a um dos
garotos curiosos que frequentam a casa na Zona Norte para apanhar uma caixa de
cerveja em lata, em um boteco da esquina, e pede a mulher tira-gosto: caldo de
peixe, carne de porco, frango assado, ovo de codorna… sob o protesto, em vão,
dos entrevistadores.
Ao redor de uma mesinha de imburana, madeira leve e
resistente á agua, com pelo menos cem anos, afirma, que, exceto o tampo, que
pertenceu aos avós e servia para sentar o oratório da casa (uma capelinha de
madeira para abrigar a imagem do santo ou santa de devoção), vai se
desenrolando a entrevista durante quase toda a tarde da quinta-feira (18 de
outubro). Diz que da oficina instalada nos fundos da residência já saiu três
centenas de bonecos, espalhados por Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Pernambuco
e Bahia.
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