O título acima era o pregão de Cambraia, o
jornaleiro mais famoso de Natal (foto), terror dos moleques desde o final dos
anos cinquenta até meados dos sessenta.
Negro alto, com o ‘branco’ (esclera) dos olhos
amarelado, calças cortadas na altura dos joelhos, camisão aberto no peito,
passadas largas e voz tonitruante, o gazeteiro do Diário de Natal era um
verdadeiro papa-léguas por todo centro da capital do Errigenê (o velho Grande
Ponto) e suas adjacências, incluindo os bairros da Ribeira, Tirol e Petrópolis,
além de logradouros como Baldo e Santa Cruz da Bica. As mães ‘terroristas’
costumavam sapecar a terrível advertência pra cima de meninos maluvidos:
“Lá vem Cambraia!”
Era mais ou menos pela ‘hora do anjo’, antes do
seriado Jerônimo, o Herói do Sertão, retransmitido pela também associada Rádio
Poti, que o jornaleiro do DN ganhava as ruas e a vida com seu inusitado e forte
pregão.
Os adultos saíam porta à fora para comprar o famoso
impresso e a molecada, na cola dos pais, ficava espiando, sobressaltada, aquela
figura do tipo “pai-véio” de umbanda, figura imponente, de voz rouca, com um
monte de exemplares dos Diários Associados inseridos numa capa de papelão debaixo
do braço destro.
Cambraia foi a grande voz repercussiva das manchetes
do DN nas ruas. Alardeava os feitos e proezas de Baracho, o Robin Hood do
submundo natalense; clamou o assassinato de John F. Kennedy e fez estardalhaço
com a morte de Caryl Chessman na câmara de gás, no estado da Califórnia (EUA).
A popularidade de Cambraia era tanta que, seguindo a
onda do voto nulo e anárquico propiciado por personagens como o “Bode Cheiroso”
(Jaboatão/PE) e o rinoceronte “Cacareco” (jardim zoológico de São Paulo), fez
alçar o nome do jornaleiro do Diário de Natal para vereador, uma presepada da
velha guarda da Confeitaria Cisne, sob o lema “Vamos à Praia com Cambraia”.
Pura ironia para essas eleições do próximo domingo, 07 de outubro do ano da
graça de 2012.
O tempo passou e os associados do Diário de
Pernambuco, no mesmo período em que se relembra a matança de Cunhaú e Uruaçu
(feriado local), no estilo do carrasco Jacob Rabbi, passaram o facão no Diário
de Natal extirpando sua história, que também é um pouco da história da vetusta
capital do Rio Grande do Norte.
Contudo, na memória do tempo, lá pras bandas da
travessa Capió, na Cidade Alta, ainda escuto a algazarra dos meninos e o grito
de guerra do velho jornaleiro egresso lá do topo da ladeira da Poti:
- “Lhô-Lholô, Diário de Natal!”
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