Por Flávio Rezende*
Não tenho dúvida nenhuma que alguns leitores vão me
considerar doido com a leitura do presente “escrito”, como costumo descrever as
coisas que produzo para jornais e sites da internet, além de publicar em
livros.
Não me incomodo, doido mesmo é o amor que sinto por
meu pai, motivo deste atual “escrito” e, vou revelar logo de cara o motivo. Meu
querido e amado pai já chegou à idade dos 88 anos e, está bem de saúde, mas,
não preciso dizer que é uma idade bem avançada, o que pode levá-lo a um
desencarne repentino, levando em conta ser meu amor já portador de diabetes,
hipertensão, vários stents, marca-passo e ter entupimentos bem comprometedores
e sérios.
Por causa do exposto, muitas vezes me pego pensando
no “escrito” que vou produzir quando o adeus for uma realidade, sempre
imaginando se ele vai de alguma maneira ler o mesmo.
Não gosto de hipocrisia e costumo ser bem objetivo
em minhas coisas, por isso, revelo que a fé que tenho no espiritismo não é
100%, confesso que, quando penso se papai vai ou não ler o que escrevi para ele
no pós-morte, sinto um vacilo e, admito que isso possa não acontecer de fato.
Diante desta dúvida atroz, decidi escrever antes do
desencarne, para ter a certeza que ele leu mesmo e, assim, não carregar esta
dúvida eternamente. Antes de escrever, gostaria de declarar aqui que, todas
aquelas coisas que muitos se arrependem de não terem feito aos entes queridos
em vida, eu faço. Telefono para meus pais praticamente todos os dias, participo
de partilhas diversas sem contestação e com alegria, levo para consultas, durmo
no hospital, digo que amo, faço cartões nos dias especiais e, procuro ter uma
conduta ética e moral aceitável em nosso contexto social, agradando assim o seu
ser que não encontra no meu, problemas e desvios de conduta, que muitas vezes
entristece e encurta a vida dos pais queridos e preocupados com a prole.
Meu querido e amado pai, fique sabendo que não
existe um fim, quando em sua jornada foram plantadas roseiras que exalarão
eternamente o doce perfume dos bons valores na vida de todos aqueles que com ti
tiveram profícuo contato.
O choro inevitável é apenas o líquido que rega essas
roseiras e, os soluços momentâneos, só revelam os terremotos interiores que nos
sacodem nestes rituais de despedida tão difíceis, porem, culturais e
necessários.
Meu inesquecível e professor pai, essas roseiras que
cultivou no jardim de sua existência são tão significativas para este filho que
o ama tanto, que ao me aproximar de um grupo de dentistas, sentirei ali o
perfume adocicado de sua valiosa contribuição a esta área, tendo sido o orador
da primeira turma de Odontologia da UFRN, exercido vários cargos nas entidades
classistas, recebido todas as honrarias locais e nacionais da profissão, além
de ter uma sala em seu nome na sede da ABO/RN. O senhor nunca foi um dentista
qualquer, foi no consultório um competente e elogiado profissional liberal, que
extrapolou o conforto do lar e serviu a Odontologia sem ganhos extras, com
muitas horas de serviço voluntário produtivo e eficaz.
Meu estimado e correto pai, quando este seu neófito
filho entrar numa agência qualquer do Banco do Brasil, sentirá o suave perfume
de sua valiosa colaboração a esta entidade nacional, igualmente exercendo
vários cargos dentro e fora do banco, tendo sido presidente e diretor da AABB,
além de fundador da CASSI, entre outras valiosas colaborações que a categoria
sabe e reconhece, dai as muitas placas e condecorações recebidas.
Meu atuante e maravilhoso pai, quando este filho
aprendiz observar as unidades militares da vida, poderá perceber no ar o forte
cheiro do perfume que revela sua passagem por este setor da sociedade
brasileira, sendo reverenciado em desfiles militares como dos últimos a compor
a Força Expedicionária Brasileira, com o destaque de ter seu nome e foto dando
nome a sala dos alunos do NPOR do 16º RI.
Meu simpático e bem humorado pai, os melhores
perfumes das mais badaladas roseiras vão estar ainda pairando na turma de
hidroginástica do professor Milton na Praia do Forte, nas salas dos cinemas que
frequentou com assiduidade de cinéfilo, nas reuniões diversas que participou em
muitos momentos de sua vida, seja no prédio onde mora, no Lions, Rotary, Igreja
Católica e, principalmente, nas confraternizações com seus filhos, todos nós
loucos de amor e de paixão pelo senhor e por sua conduta moral, sua humildade,
sua serenidade, sua prestimosidade.
Sei que por ter o dom da escrita, teria eu a missão
dessa confissão pública de amor, sabendo também ser porta-voz dos manos Júlio,
Leila, Fernandinho, Lila e Jorge, pois, quando estamos nós a confabular as
coisas da vida, é unanimidade o carinho que todos temos pelo senhor Fernando
Rezende e por mamãe Miriam, dupla que nos trouxe ao mundo, para que de camarote
pudéssemos assistir a uma verdadeira aula de amor aos filhos.
Então pai, quando a hora chegar, chorar, soluçar
será inevitável, mas, temporário, o que vai ficar mesmo, é esse perfume que o
senhor exala e que nos torna cada vez mais felizes de termos encarnados em meio
a um roseiral tão maravilhoso.
De onde esteja, vendo tudo ou não, torça para que os
espinhos que também estão presentes no roseiral afugentem todos os males que
queiram por ventura, se aproximar.
Seu perfume vai estar sempre por ai, doce e querido
pai. Todos nós te amamos ad infinitum.
*É escritor, jornalista
e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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