Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
Ao navegar o Facebook, encontrei um apelo da
jornalista Glácia Marillac: “Preciso de meias usadas, furadas, aquelas que só
estão ocupando espaço, esquecidas no armário. É para doar a pacientes
portadores de hanseníase que usam as meias para proteger os medicamentos,
incinerando-as depois. Não importa a condição da meia, só precisa estar limpa e
pronta para fazer o bem”. Fui tocado pela mensagem singela e, ali mesmo,
compartilhando o apelo em minha página, aderi à campanha modesta e útil.
Com uma simples meia furada é possível ajudar
alguém, demonstrar afeto pelo outro. Fazer o bem só exige de cada pessoa um
pouco de solidariedade e disposição. Ah! se toda gente soubesse…
Meias furadas, após um tempo na gaveta, costumam
virar lixo. E essa, como se pode notar com o apelo de Glácia, é uma das menores
demonstrações de desperdício, entre tantas que damos diariamente. O que sobra
em nossa rotina poderia aliviar a necessidade e o sofrimento de milhões de
seres humanos, mas, atolados na compulsão consumista, descartamos coisas sem
considerar que aquilo que deixou de entreter nossa ansiedade (Sim, é ela que
nos torna predadores incontroláveis!) pode ser o recurso básico que falta a
pobres e excluídos.
Os números dessa manifestação de egoísmo são
superlativos, a começar pelo desperdício de alimentos – quase um crime de
genocídio, se nos lembrarmos que no planeta quase 1 bilhão de pessoas
sobrevivem famintas. Segundo a ONU, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de
alimentos são desperdiçadas por ano, resultado de perdas na colheita e na
manipulação, do descarte devido a aspectos cosméticos (por exigência dos
consumidores) e, claro, do desperdício puro e simples nas residências,
restaurantes e lanchonetes. Os americanos, os mais perdulários, chegam a mandar
para o lixo 40% de sua comida. Mas nós, brasileiros, também ocupamos um lugar
de destaque nesse triste campeonato.
O Brasil produz 26% a mais do que necessita para
alimentar sua população, mas as perdas na cadeia produtiva e o desperdício
doméstico (em média, cada casa manda para o lixo 20% da comida adquirida) geram
absurdos como esta estatística de 2006: naquele ano, segundo a Embrapa, 26,3
milhões de toneladas de alimentos viraram lixo, uma quantidade suficiente para
saciar, com três refeições diárias, 19 milhões de pessoas, quase a metade dos
39 milhões de brasileiros que conviveram com a fome no período.
Escândalo maior, só se for o da avareza de
produtores derramando leite nas ruas, queimando plantações ou dizimando
pintinhos apenas para elevar o preço dos produtos em tempo de supersafra…
A singeleza de fazer o bem com uma meia furada nos
remete à visão do que está além da forma: o maior desperdício, na verdade, é o
do amor, esse manancial de vida relegado e apodrecido na geladeira do coração.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
0 comentários:
Postar um comentário