Por Albimar Furtado*
Jornalista
▶ albimar@superig.com.br
Ouvi muitas vezes, de muita gente e há bastante
tempo, que a rua Guanabara era, das ruas de Natal, a que descortinava a
paisagem mais bonita da cidade. E era. Isto nos tempos em que a verticalização
das moradias não tinha chegado à Areia
Preta. A visão era ampla, horizonte, céu, mar e a perder-se nas dunas da
Redinha e Santa Luzia. Era rua de casas simples, pequenas, muitas delas à beira
das dunas de Mãe Luiza, de angulo acentuado, derramando-se no que hoje é o
início da Via Costeira.
Vi essa paisagem, ainda menino começando a ser
metido a besta, porque subia o morro em busca da casa de Rubens, aluno da então
Escola Técnica Federal instalada no velho prédio da avenida Rio branco. A ele
comprova os reforços do meu time de botão nas cores vermelha e branca, em
homenagem ao meu Bangu. Botões de belo acabamento, feitos nas oficinas da
ETFRN. A rua não tinha recebido ainda
pavimentação, nem a iluminação pública havia chegado. Quem sabe, houvesse
acontecido se Djalma Maranhão não tivesse sido tirado, estupidamente, do
Palácio Frei Miguelinho. Prefeito, ele havia iniciado uma agressiva política de
calçamento à paralelepípedo e de iluminação pública.
Mas a rua Guanabara da qual quero falar é a de hoje.
Perdeu grande parte da paisagem marinha porque viu crescer à sua frente uma
cortina de pedra, tijolo e cimento. Mas manteve a alegria de seus primeiros
tempos. É singular. As construções não têm recuo, não deixando espaços para a
elevação dos terríveis muros de segurança, que enfeiam a paisagem das outras
ruas. Ao contrário, as casas têm portas e janelas abertas à via pública e à
visão do mar.
As noites da rua Guanabara não têm a solidão das
outras ruas de Natal. Não é soturna. As luzes das casas estão acesas e as
calçadas abrigam rodas de conversas. Não se pense que é uma ou outra casa. É
regra. Passei por lá recentemente e testemunhei, vi, uma rua diferente, alegre,
com vida. Jovens crianças e velhos curtindo a noite de lua cheia, de estrelas,
de temperatura agradável. Passei pela Guanabara, tomei o rumo da minha casa.
Entrei na minha rua: muros, tristeza e a solidão de um vigia. Pobre de mim.
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