Nivaldo Brum Vilar Saldanha
Advogado
e procurador do Estado do RN (triunfo@interjato.com.br)
No dia 04 de agosto se comemora o dia do Padre. E
nessa última data muito me lembrei de uma figura querida pelos caicoenses que
foi o padre Aderbal Leitão Vilar.
Nasceu no dia 14 de janeiro de 1917 na Fazenda
Triunfo pertencente aos seus pais, zona rural do município de Caicó. De uma
prole de quatorze irmãos, ele era o décimo filho de meus avós maternos,
Leopoldina Brum Leitão e Agostinho Vilar. Desde cedo se sentiu vocacionado para
ser padre. Fez os seus estudos teológicos e filosóficos nos seminários São
Pedro aqui em Natal e no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Foi colega de
turma de figuras de proa da Igreja Católica como o nosso cardeal Eugênio Sales
e o arcebispo Alair Vilar, ainda seu parente.
Realizados os estudos sacerdotais ordenou-se padre
pelas mãos de dom José de Medeiros Delgado, o primeiro bispo de Caicó, na
Catedral de Santana de Caicó em 08 de dezembro de 1941 (dia de Nossa Senhora da
Conceição), numa grande festa na Igreja. A partir daí serviu como padre ou em
substituição em quase todas as freguesias do Seridó daquela época, sendo
vigário-geral da Matriz de Santana, em Caicó, por alguns anos.
Era um exímio músico e também era professor de
música. Tocava com perfeição muitos instrumentos, entre os quais o violino. E
ao lado da sua irmã Eutália Vilar (que tocava bandolim), do ex-prefeito de
Caicó José Bernardo, do famoso fotógrafo Zé Ezelino e outros mais formavam uma
turma musical animada na Caicó das antigas. O padre Aderbal compunha como
ninguém músicas sacras e hinos religiosos. Foi dele a letra e música do Grupo
Escolar Senador Guerra e também foi ele o autor da música do hino do Colégio
Diocesano, ambos em Caicó. Por essa razão, entre outras, a Filarmônica do
Colégio Diocesano de Caicó leva o seu nome. Falava vários idiomas, chegando a
ensinar línguas estrangeiras. Também exerceu o sacerdócio no Rio de Janeiro e
nas cidades paulistas de Jundiaí e Santo André, onde fixou residência
definitiva e construiu a Igreja de Nossa Senhora de Fátima no bairro do Curuçá,
tipicamente de portugueses, residindo aí até a sua morte em 1985 (hoje é nome
de praça em Santo André); sendo sepultado em Caicó na Matriz de Santana, ao
lado do colega monsenhor Walfredo Gurgel.
E Justamente com Walfredo Gurgel, seu conterrâneo e
contemporâneo, juntos eles foram os grandes oradores sacros do Seridó do seu
tempo. Faziam sermões esmerados, eruditos que cativavam os fiéis. Eu mesmo
testemunhei quando adolescente um desses sermões do padre Aderbal, de profundo
e belíssimo significado teológico que muito me impressionou.
Mas além dessas qualidades de inteligência, cultura
geral e plena erudição, o padre Aderbal era realmente vocacionado ao sacerdócio
católico, com obras permanentes de caridade e solidariedade. Gostava de ajudar
a todo aquele que o procurasse. Indistintamente. Ninguém saía de mãos vazias.
Arranjou centenas e centenas de empregos para os seridoenses nas décadas de
cinqüenta, sessenta e setenta quando os nordestinos iam a São Paulo buscar
melhoras de vida. Ele ia diretamente aos gerentes das fábricas utilizando o seu
prestígio pessoal para falar empregos para as pessoas necessitadas. São muitos
os testemunhos. A sua casa era uma verdadeira hospedaria e embaixada para o
povo daqui do Estado. E até para aqueles que iam fazer tratamento de saúde em
São Paulo, numa época que a medicina do Estado era atrasada, sem maiores
recursos materiais e humanos.
Era, pois, generoso. Quando ainda se falava pouco em
ecumenismo ele tinha uma forte relação de amizade com os líderes evangélicos e
pessoa de outras religiões. Era plural e independente. Passava o ano inteiro em
campanha permanente – na sua paróquia e nas paróquias vizinhas lá em São Paulo
–, com a ajuda de outros padres amigos, coletando e juntando roupas e calçados
usados com a finalidade de enviar pontualmente para os pobres e flagelados de
Caicó. O senhor Oscar (de Jardim do Seridó), que era seu amigo pessoal – e dono
da pujante Transportadora TransZero –, encarregava-se de transportar
gratuitamente esses pertences ao Seridó para que as freiras do Colégio Santa
Terezinha de Caicó distribuíssem às pessoas humildes. Eram fardos e mais fardos
que lotavam um caminhão carreta cuidadosamente empacotados.
Essas atitudes o deixavam feliz. Sentia prazer em
servir e mobilizar a comunidade, em ajudar, em transformar a vidas das pessoas
a sua volta. Isso era do seu perfil. Tinha uma liderança nata que fez dele
pessoa de estrita confiança do cardeal Cláudio Hummes, dentro do clero de Santo
André. Todo o bem ele fazia no anonimato. Sem vaidade ou estardalhaço. Gostava
de alumiar a vida das pessoas. Pagar cursos para elas se aperfeiçoarem
profissionalmente. O objetivo era apaziguar socialmente. Gostava também de
orientar as vocações das pessoas. Assim era padre Aderbal Leitão Vilar. Um
exemplo de padre. Um homem santo, discreto, culto, simples e de ações humanas
profundas. Até hoje vêm paulistas visitar o seu sepulcro em Caicó. Dele tenho
muitas saudades.
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