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domingo, 2 de setembro de 2012

Artigo do Dr. Nivaldo Brum: Padre Aderbal Leitão Vilar

Nivaldo Brum Vilar Saldanha
Advogado e procurador do Estado do RN (triunfo@interjato.com.br)
 
No dia 04 de agosto se comemora o dia do Padre. E nessa última data muito me lembrei de uma figura querida pelos caicoenses que foi o padre Aderbal Leitão Vilar.
 
Nasceu no dia 14 de janeiro de 1917 na Fazenda Triunfo pertencente aos seus pais, zona rural do município de Caicó. De uma prole de quatorze irmãos, ele era o décimo filho de meus avós maternos, Leopoldina Brum Leitão e Agostinho Vilar. Desde cedo se sentiu vocacionado para ser padre. Fez os seus estudos teológicos e filosóficos nos seminários São Pedro aqui em Natal e no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Foi colega de turma de figuras de proa da Igreja Católica como o nosso cardeal Eugênio Sales e o arcebispo Alair Vilar, ainda seu parente.
 
Realizados os estudos sacerdotais ordenou-se padre pelas mãos de dom José de Medeiros Delgado, o primeiro bispo de Caicó, na Catedral de Santana de Caicó em 08 de dezembro de 1941 (dia de Nossa Senhora da Conceição), numa grande festa na Igreja. A partir daí serviu como padre ou em substituição em quase todas as freguesias do Seridó daquela época, sendo vigário-geral da Matriz de Santana, em Caicó, por alguns anos.
 
Era um exímio músico e também era professor de música. Tocava com perfeição muitos instrumentos, entre os quais o violino. E ao lado da sua irmã Eutália Vilar (que tocava bandolim), do ex-prefeito de Caicó José Bernardo, do famoso fotógrafo Zé Ezelino e outros mais formavam uma turma musical animada na Caicó das antigas. O padre Aderbal compunha como ninguém músicas sacras e hinos religiosos. Foi dele a letra e música do Grupo Escolar Senador Guerra e também foi ele o autor da música do hino do Colégio Diocesano, ambos em Caicó. Por essa razão, entre outras, a Filarmônica do Colégio Diocesano de Caicó leva o seu nome. Falava vários idiomas, chegando a ensinar línguas estrangeiras. Também exerceu o sacerdócio no Rio de Janeiro e nas cidades paulistas de Jundiaí e Santo André, onde fixou residência definitiva e construiu a Igreja de Nossa Senhora de Fátima no bairro do Curuçá, tipicamente de portugueses, residindo aí até a sua morte em 1985 (hoje é nome de praça em Santo André); sendo sepultado em Caicó na Matriz de Santana, ao lado do colega monsenhor Walfredo Gurgel.
 
E Justamente com Walfredo Gurgel, seu conterrâneo e contemporâneo, juntos eles foram os grandes oradores sacros do Seridó do seu tempo. Faziam sermões esmerados, eruditos que cativavam os fiéis. Eu mesmo testemunhei quando adolescente um desses sermões do padre Aderbal, de profundo e belíssimo significado teológico que muito me impressionou.
 
Mas além dessas qualidades de inteligência, cultura geral e plena erudição, o padre Aderbal era realmente vocacionado ao sacerdócio católico, com obras permanentes de caridade e solidariedade. Gostava de ajudar a todo aquele que o procurasse. Indistintamente. Ninguém saía de mãos vazias. Arranjou centenas e centenas de empregos para os seridoenses nas décadas de cinqüenta, sessenta e setenta quando os nordestinos iam a São Paulo buscar melhoras de vida. Ele ia diretamente aos gerentes das fábricas utilizando o seu prestígio pessoal para falar empregos para as pessoas necessitadas. São muitos os testemunhos. A sua casa era uma verdadeira hospedaria e embaixada para o povo daqui do Estado. E até para aqueles que iam fazer tratamento de saúde em São Paulo, numa época que a medicina do Estado era atrasada, sem maiores recursos materiais e humanos.
 
Era, pois, generoso. Quando ainda se falava pouco em ecumenismo ele tinha uma forte relação de amizade com os líderes evangélicos e pessoa de outras religiões. Era plural e independente. Passava o ano inteiro em campanha permanente – na sua paróquia e nas paróquias vizinhas lá em São Paulo –, com a ajuda de outros padres amigos, coletando e juntando roupas e calçados usados com a finalidade de enviar pontualmente para os pobres e flagelados de Caicó. O senhor Oscar (de Jardim do Seridó), que era seu amigo pessoal – e dono da pujante Transportadora TransZero –, encarregava-se de transportar gratuitamente esses pertences ao Seridó para que as freiras do Colégio Santa Terezinha de Caicó distribuíssem às pessoas humildes. Eram fardos e mais fardos que lotavam um caminhão carreta cuidadosamente empacotados.
 
Essas atitudes o deixavam feliz. Sentia prazer em servir e mobilizar a comunidade, em ajudar, em transformar a vidas das pessoas a sua volta. Isso era do seu perfil. Tinha uma liderança nata que fez dele pessoa de estrita confiança do cardeal Cláudio Hummes, dentro do clero de Santo André. Todo o bem ele fazia no anonimato. Sem vaidade ou estardalhaço. Gostava de alumiar a vida das pessoas. Pagar cursos para elas se aperfeiçoarem profissionalmente. O objetivo era apaziguar socialmente. Gostava também de orientar as vocações das pessoas. Assim era padre Aderbal Leitão Vilar. Um exemplo de padre. Um homem santo, discreto, culto, simples e de ações humanas profundas. Até hoje vêm paulistas visitar o seu sepulcro em Caicó. Dele tenho muitas saudades.
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