Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
Dizem que amigos a gente escolhe. Não acredito
nisso. Imaginar que podemos determinar nossos amigos é tirar a amizade da
categoria dos sentimentos, é excluí-la do reino misterioso e imprevisível do
coração para transformá-la em mais uma habilidade utilitária, dessas que se
aprende em seminários de relações humanas e cursos de etiqueta. Nesse caso,
penso, já nem teríamos a amizade em si mesma, mas uma moeda de troca num jogo
de interesses que justificaria a frase amarga de Machado de Assis: “Não é amigo
aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz”.
É a vida quem escolhe nossos amigos, colocando-os à
espreita nas esquinas e becos em que trafegamos. À luz do dia ou na escuridão
da noite, lá estão eles, ágeis em nos seduzir com o brilho de um olhar, um
sorriso ingênuo, um afago, uma tirada inteligente, um desabafo, uma ação
generosa ou qualquer outro pequeno ou grande gesto que nos toca a alma,
tornando-nos vivos e amorosos. Eu assinaria embaixo do que disse o poeta
Vinícius de Moraes: “A gente não faz amigos, reconhece-os”.
Dizem que os amigos se revelam nas horas difíceis
quando, oprimidos, buscamos um ombro para chorar e compartilhar o que ninguém
quer ouvir. Pode ser. Confúcio já dizia que para conhecermos os nossos amigos é
necessário passar pelo sucesso e pelo infortúnio, pois no sucesso verificamos a
quantidade e, na desgraça, a qualidade deles. Mas, com toda a consideração ao
sábio chinês, entendo que, se soubermos distinguir os amigos dos bajuladores,
perceberemos que a amizade maior mostra sua cara principalmente nos momentos em
que o êxito e a alegria nos fazem menos dependentes, nivelando as relações e o
respeito. Um grande amigo é um coração despido de avareza e inveja.
Amigo, quase sempre, é jóia rara. Mas, ao contrário
do senso comum que guia os que acumulam ouro, uma coisa assim, tão preciosa, é
para ser dividida e multiplicada ao invés de a aprisionarmos no cofre de um
coração avaro. Como forasteiros, amigos chegam e se vão, deixando marcas
positivas em nossas vidas. Seria ingratidão, prendê-los a nós, impedindo o seu
vôo de gaivota livre.
É assim, nesse estado de espírito saudoso e
bem-aventurado, que hoje eu e os companheiros do Sapiens nos despedimos de Luis
Fernando Ruegger Ribeiro, o forasteiro paulista que há nove anos nos conquistou
suave e definitivamente. Aqui ele deixa suas marcas como médico homeopata,
terapeuta e, sobretudo, amigo que sabe partilhar e ajudar com a discrição e a
sinceridade das almas nobres. Gratidão! Muita gratidão!
Vá voar, amigo. Não faz mal. Os que permanecemos no
velho ponto de encontro iremos concordar com o poeta Vinícius: “A amizade, além
de contagiosa, é totalmente incurável”.
*Texto publicado no NOVLO
JORNAL e na página
do jornalista na internet
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