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domingo, 9 de setembro de 2012

Amigo a gente reconhece

Por Jomar Morais*
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br
 
Dizem que amigos a gente escolhe. Não acredito nisso. Imaginar que podemos determinar nossos amigos é tirar a amizade da categoria dos sentimentos, é excluí-la do reino misterioso e imprevisível do coração para transformá-la em mais uma habilidade utilitária, dessas que se aprende em seminários de relações humanas e cursos de etiqueta. Nesse caso, penso, já nem teríamos a amizade em si mesma, mas uma moeda de troca num jogo de interesses que justificaria a frase amarga de Machado de Assis: “Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz”.
 
É a vida quem escolhe nossos amigos, colocando-os à espreita nas esquinas e becos em que trafegamos. À luz do dia ou na escuridão da noite, lá estão eles, ágeis em nos seduzir com o brilho de um olhar, um sorriso ingênuo, um afago, uma tirada inteligente, um desabafo, uma ação generosa ou qualquer outro pequeno ou grande gesto que nos toca a alma, tornando-nos vivos e amorosos. Eu assinaria embaixo do que disse o poeta Vinícius de Moraes: “A gente não faz amigos, reconhece-os”.
 
Dizem que os amigos se revelam nas horas difíceis quando, oprimidos, buscamos um ombro para chorar e compartilhar o que ninguém quer ouvir. Pode ser. Confúcio já dizia que para conhecermos os nossos amigos é necessário passar pelo sucesso e pelo infortúnio, pois no sucesso verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade deles. Mas, com toda a consideração ao sábio chinês, entendo que, se soubermos distinguir os amigos dos bajuladores, perceberemos que a amizade maior mostra sua cara principalmente nos momentos em que o êxito e a alegria nos fazem menos dependentes, nivelando as relações e o respeito. Um grande amigo é um coração despido de avareza e inveja.
 
Amigo, quase sempre, é jóia rara. Mas, ao contrário do senso comum que guia os que acumulam ouro, uma coisa assim, tão preciosa, é para ser dividida e multiplicada ao invés de a aprisionarmos no cofre de um coração avaro. Como forasteiros, amigos chegam e se vão, deixando marcas positivas em nossas vidas. Seria ingratidão, prendê-los a nós, impedindo o seu vôo de gaivota livre.
 
É assim, nesse estado de espírito saudoso e bem-aventurado, que hoje eu e os companheiros do Sapiens nos despedimos de Luis Fernando Ruegger Ribeiro, o forasteiro paulista que há nove anos nos conquistou suave e definitivamente. Aqui ele deixa suas marcas como médico homeopata, terapeuta e, sobretudo, amigo que sabe partilhar e ajudar com a discrição e a sinceridade das almas nobres. Gratidão! Muita gratidão!
 
Vá voar, amigo. Não faz mal. Os que permanecemos no velho ponto de encontro iremos concordar com o poeta Vinícius: “A amizade, além de contagiosa, é totalmente incurável”.
 
*Texto publicado no NOVLO JORNAL e na página do jornalista na internet
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