Por Albimar Furtado*
Jornalista
▶ albimar@superig.com.br
Andávamos pelo shopping, sem pressa mas acompanhando
o passar do tempo, de olho no relógio, com hora marcada para tomar os rumos do
aeroporto e viajar de volta pra casa. Na caminhada, de repente à nossa frente
surge a loja com artigos exóticos. Em meio a tantas coisas anunciadas como
oriundas da amazônia, avistei um vegetal, velho conhecido desde os tempos da
infância em Currais Novos e quase chegando à adolescência em Natal e Pedro
Avelino. Estava ali, no balcão da loja, em embalagem cuidadosa, a bucha
vegetal.
E por que me era bem familiar? Naqueles tempos não
tínhamos ainda o bom-bril e similares de muitas utilidades, nem a bucha
sintética. Nas cozinhas, nas bacias para lavar os pratos e as panelas, o que
existia junto ao sabão era a areia que se ia buscar às margens do rio, no
interior, ou, em Natal, na beira-mar. O terceiro elemento era exatamente a
bucha. Os três misturados e mais a água, formavam o conjunto para deixar
os copos e panelas de metal lustrados,
tinindo de brilhar; bucha e sabão limpavam pratos, xícaras e similares. Eram produtos básicos em qualquer casa.
Ninguém precisava ir a supermercado para obtê-los, mesmo porque então não havia
esses equipamentos em que hoje se encontra tudo, ou quase tudo. A bucha e a
areia estavam ali pertinho, na natureza, na mata nativa, na feira e no chão dos
rios.
Pois bem, depois de tempos reencontro a bucha com
novo status. Já não estava no mato, decorava uma vitrine. Não estava mais
protegida por uma casca, pendurada no vegetal. Ficava ali exposta, nua de sua
proteção. Ao lado, um pequeno texto que explicava o valor e a aplicação da
velha bucha. Não era mais pra lavar prato, xícara ou panela, fosse de metal ou
de barro. Melhorou a patente, rejuvenesceu. Agora, estava ali escrito, é
“esfoliante”. Não cuida mais de metal, serve à pele. Li, no texto ao lado dela,
que faz bem à pele, retira as células mortas e que é fruto de trepadeira.
Esfoliante, a mente seguiu repetindo. Saiu das
bancadas de alvenaria em que se colocavam as bacias com água para lavar pratos
e panelas para as lojas dos shoppings. Status novo, preço alto. Esfoliante.
Votes!
*Texto publicado na coluna
do jornalista no NOVO JORNAL
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