Por Flávio Rezende*
Escritorflaviorezende@gmail.com
A área jornalística sempre foi terreno propício à
invasão de pessoas que se julgam aptas ao exercício da profissão e, agora, com
o fim da obrigatoriedade do diploma, virou a casa de mãe Joana, com figuras que
se julgam jornalistas, pelo simples fato de terem blogs dos mais diversos
assuntos, portando carteiras próprias e comparecendo a tudo que é evento, seja
ele social, esportivo, político ou até mesmo um batizado qualquer por ai.
Está difícil para as assessorias de imprensa dos
mais diversos campos lidar com tanta gente querendo credencial para adentrar
nos eventos em geral. Se o assessor afirmar que só entra quem a empresa que ele
representa tem interesse, vai ser um caos, cabendo até processo de bullying. Se
credenciar todo mundo, corre o risco de passar vergonha com tanta gente falando
errado e escrevendo menos ainda, interessada só e somente só em ser ele mesmo,
a notícia.
Sim, pois agora temos muitos que aparecem mais que
as notícias. Em fotos que vemos em sites e blogues, os autores aparecem tanto
que os aniversariantes, os noivos ou os políticos são meros detalhes.
Além de estarmos presenciando um tempo onde os
jornalistas aparecem mais que os entrevistados ou os fatos noticiados, tem um
monte ai se arvorando a ser formador de opinião. Espalha pelos quatro cantos da
cidade que seus textos influenciam as pessoas, induzem ao consumo disso e
daquilo e levam multidões a restaurantes indicados.
O caminho do jornalismo genérico está aberto e a
fortuna acena para muitos devido a própria futilidade de toda a sociedade,
louca para sair numa coluna. Os novos e os velhos ricos, precisando aparecer
para os amigos e familiares como pessoas importantes, conduzem os genéricos
jornalistas e/ou colunistas e/ou blogueiros e/ou seja lá que nome possamos dar,
para um mundo de vinhos, degustações, viagens, hospedagens, tendo casos de
apartamentos doados, carros transferidos, contas bancárias regadas mensalmente
e, até a combinação ipsis litteris do que deve ser publicado.
O bom jornalismo ensina em todo canto que o
jornalista, o repórter, editor, apresentador, deve interferir o mínimo possível
na informação, sendo por isso vedado o uso de paletó numa beira de praia, pois,
sendo isso fora do comum, o telespectador ou leitor desviaria a atenção do que
realmente importa, para o fato do jornalista estar vestido de maneira
inadequada num calor danado. Isso se chama ruído na comunicação.
Hoje em dia, o ruído virou regra e, o que vale, é o
camarada aparecer a todo custo.
Aparece em todas as fotos, aparece em todas as
festas, prestigia Deus e o Diabo, acendendo uma vela para todos os santos
católicos, divindades hindus, tudo com a ideia fixa de marcar presença, de
fazer amigos, formar a rede de network.
Muitas coisas seriam saudáveis e corretas, se a
pessoa assumisse que seu trabalho é o de exaltação a si mesmo, o trabalho de
tornar sua vida mais feliz, de ganhar dinheiro com isso e, deixar de lado essa
fantasia, esse autoengano de que pratica jornalismo.
Jornalismo é informação de interesse coletivo, são
fatos reais que precisam ser compartilhados com a sociedade como uma forma
sadia de sabermos o que acontece a nossa volta e no planeta que moramos.
Sabemos que os veículos tem opinião, que existem interpretações dos fatos, que
pessoas de acordo com sua formação educacional, social, familiar e até
política, analisam os acontecimentos de maneira pessoal, por isso os cursos de
jornalismo defendem o aprofundamento da leitura crítica da comunicação, para
que possamos entender de maneira mais ampla todo esse jogo, mas o foco da coisa
toda é a informação, não o informante.
Com o fim do diploma e a ocupação do espaço da
comunicação por genéricos e todos os babados mais, com muitos se achando o
próprio pop star, a última Coca-Cola do deserto, aliado a falta de interesse da
população em geral, em todo o planeta, por coisas mais profundas, só Herbert
Marshall McLuhan sabe o que vai acontecer nesta aldeia global com tantos
caciques e poucos índios na taba mundial e, se, MacLuhan afirmava que o meio era
a mensagem, estamos caminhando para que a mensagem seja o meio mais fácil de
aparecer, ganhar dinheiro, poder e, envergonhar de vez, quem continua tentando
fazer da informação, um produto sério e necessário, sem embalagem e sem tanta
frescuragem.
*Flávio Rezende é
escritor, jornalista e ativista social em Natal.
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