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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fatos e versões

Por Jomar Morais*
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br

Se você está lendo este jornal na expectativa de encontrar o relato fiel de fatos, lamento informar: você está equivocado. Diria o mesmo se você estivesse lendo os jornais concorrentes ou mesmo um monstro sagrado da mídia, como o The New York Times.

Aplique-se isso às revistas (com mais ênfase), aos portais de notícias, aos blogs (com muito mais ênfase) e à televisão, ainda que nas transmissões ao vivo. Aplique-se até aos emails e às cartas (se é que elas ainda existem) e também aos livros e às pesquisas orgulhosamente rotuladas de ciência. No papel, no computador ou na TV jamais existem fatos, mas versões de fatos baseadas nos filtros mentais e ideológicos de quem os reporta.

A rigor não existem fatos – no sentido de realidade que pode ser percebida por inteiro – nem mesmo quando estamos cara a cara com o que acontece ou somos parte do acontecimento. Cada observador só registra o que é selecionado por seu conjunto de crenças e condicionamentos, algo mutável com a experiência, porém invariavelmente resistente a mudanças. Mesmo assim a aproximação da verdade pode e deve ser uma meta pessoal e profissional para a qual se faz necessário o desapego de operar no nível das convicções, sedimentando na humildade da dúvida a abertura ao desconhecido.

Novos conhecimentos e tecnologias derrubam crenças consolidadas e, nesse contexto, é a percepção da complexidade, revelando-nos a interpendência dos agentes da vida, que paradoxalmente nos abre a porta do exercício efetivo da liberdade e da responsabilidade. Até hoje isso tem sido prejudicado pelo hábito de identificar o fato com a versão, base da passividade das massas e do movimento de manada nos modismos.

No campo do jornalismo, muito temos a agradecer a Internet por sua ajuda no desmonte de mitos como o da objetividade da notícia e o da sapiência dos analistas e líderes de opinião. Portais de informação e blogs, por seus pecados e virtudes, acabam sensibilizando o leitor para a percepção do óbvio: a diversidade de visões e interesses e a funcionalidade das técnicas de edição (inclusive nas imagens ao vivo) sob a influência desses pontos de vista e intenções. Além disso, a emergência do noticiário em tempo real tem substituído a noção de notícia como pacote fechado pela de processo, uma captação do movimento da vida com o permanente ajuste de novos enfoques e correção de dados.

Isso não é mau para o jornalismo, o bom jornalismo, e é ótimo para o público. Motivado pelo oceano de versões, o leitor tende a assumir a atitude proativa de selecionar dados e construir o seu próprio conhecimento, passando a agir e interagir na teia social com liberdade e sem subjugação a manipulações e interesses.

*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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