Ser
tão de Caicó
Uma das coisas mais agradáveis de ser da capital do
seridó é ter histórias para contar. Eu, como boa caicoense que sou, adoro
conversar, contar lorotas, fazer piadas, abrir o bocão, rasgar o verbo,
enunciar, discursar e fazer zuada. Cresci ouvindo meu pai falar muito (e bem
alto). Em todos os lugares que eu o acompanhei nunca, nem sequer uma vez,
ninguém falou mais baixo do que ele. Esse talvez seja o traço que mais nos
identifica: a interatividade.
Nessas conversas da vida, certa vez eu ouvi meu pai
dizer que todo caicoense é bairrista: se você nasceu em Caicó, certamente,
morrerá dizendo que nasceu lá (atualmente resido fora). O caicoense pode ir aonde for, pode chegar a
qualquer parte do mundo, mas, no momento em que alguém lhe perguntar “- De onde
você é?”, ele responderá de boca cheia: Eu sou de Caicó.
Às vezes eu me pego analisando algumas situações, há
em Caicó quem fale demais, há quem fale pouco, tem quem fale baixo e quem só
viva na surdina, tem os que gostam de segredos, existe a turma do fuxico leve,
que gosta de sorrir, existem os inconvenientes, os que extrapolam e os
discretos. Como em todas as cidades há “pessoas” e pessoas, os que usam a
liberdade de expressão em prol da harmonia e os que a usam a troco de meia
dúzia de polêmicas pobres de espírito.
Mas, sabe o que é bom em Caicó? Eu vou dizer: é
acordar de manhã com o barulho do povo se movimentando dentro de casa
articulando a rotina, é o arrastado de chinela no chão, é chegar à feira e ver
um “doido” gritando qualquer besteira, é ouvir o rádio ligado em qualquer
programa alegre, é poder sentar na calçada e os vizinhos lhe cumprimentarem
pelo seu nome, é o carro de som nas maiores alturas anunciando um candidato que
você detesta, é poder “bodejar”, reclamar e dizer na cara o que você pensa, é a
liberdade que temos para sermos nós mesmos.
Somos um povo expressivo, temos orgulho de
conversar, de falar e mostrar a que viemos. Somos receptivos, sabemos receber
bem nossos visitantes, nos esforçamos para dar atenção, gostamos de agradar,
valorizamos os vínculos. Gostamos de dizer “EU SOU DE CAICÓ”, exercitamos o
diálogo e não há orgulho maior para um caicoense do que saber que as pessoas
foram e são felizes na nossa terra. É um prazer saber que na nossa cidade todo
mundo que entra sai com uma boa história para contar, uma boa lembrança
acompanhada de um sorriso por ter conhecido um caicoense.
Daí eu pergunto: existe coisa mais infeliz do que
não poder mostrar suas origens? Caicoense não se esconde não. E digo mais: tire
sua etiqueta da frente que eu quero passar com a minha originalidade! Por que
ser chique é dar-se, a si e aos outros, o luxo de saber entrar e sair de
qualquer lugar vestindo o seu sorriso mais sincero. Ser chique é só precisar de
duas coisas para se fazer notar: espontaneidade e simplicidade.
*Andréia Nóbrega, 27
anos, é caicoense, pedagoga e mestra em linguista
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