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sábado, 9 de junho de 2012

Era bonito e ficou feio. Era charme virou vilão

Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br

Vi a notícia na televisão dizendo que um balão, no Rio de Janeiro, caiu em um próprio militar. A matéria falava ainda dos perigos e da proibição de soltá-los, medida que por muitos motivos é absolutamente justificada. Os balões não podem mais flutuar entre as camadas de ar, e por justa causa. Que pena. Tive a alegria de, ainda menino, vê-los subir nas noites dos santos populares de junho, empurrados pelos gritos da meninada e dos adultos. Subia e subia até parecer uma bola de fogo na noite de pouca luz das cidades sertanejas. Continuava ascendente, até confundir-se com as estrelas todas bem visíveis num céu bem diferente do de hoje. O clarão das luzes de agora, na terra, apagam os pontos brilhantes do alto.

Os balões tinham beleza e produziam alegria. Em volta deles, todos se juntavam e gritavam e batiam palmas e pareciam subir com eles.Não tinham a sofisticação dos europeus, de onde vieram. Mas cumpriam a sina  de fazer um povo mais feliz, pelo menos por uma noite. Mesmo que por um momento. Passaram os tempos e outros modismos chegaram. Eu já não passava minhas férias no interior e vivia a turbulência dos anos 60 na capital. Anos em que, pelos nossos céus os balões que despertavam São João já não tinham espaços. Lá em cima, confundindo-se com as estrelas, estavam os satélites, que naqueles tempos chamavam de “satélites artificiais”, lançados pelas sofisticadas bases dos Estados Unidos e União Soviética.

Vez por outra passava um. Havia os olhares das pessoas para o céu. Mas sem a alegria e a beleza dos velhos balões. Alegria e beleza tornaram-se sinônimos de perigo, de iminência de incêndio. Hoje, os balões das festas de junho e dos baiões de Luiz Gonzaga e de tantos outros, perderam o charme. Agora são vilões, significam risco. Transformam em réu quem insistir em soltá-los. É o mundo em mutação. Na conta de chegada herdamos um mundo melhor, com mais de mil e uma vantagens.

Mas ficamos com um céu de estrelas sem brilho e sem a beleza e a alegria dos balões. Estava escrito.

*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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