Albimar Furtado*
Jornalista
▶ albimar@superig.com.br
Vi a notícia na televisão dizendo que um balão, no
Rio de Janeiro, caiu em um próprio militar. A matéria falava ainda dos perigos
e da proibição de soltá-los, medida que por muitos motivos é absolutamente
justificada. Os balões não podem mais flutuar entre as camadas de ar, e por
justa causa. Que pena. Tive a alegria de, ainda menino, vê-los subir nas noites
dos santos populares de junho, empurrados pelos gritos da meninada e dos
adultos. Subia e subia até parecer uma bola de fogo na noite de pouca luz das
cidades sertanejas. Continuava ascendente, até confundir-se com as estrelas
todas bem visíveis num céu bem diferente do de hoje. O clarão das luzes de
agora, na terra, apagam os pontos brilhantes do alto.
Os balões tinham beleza e produziam alegria. Em
volta deles, todos se juntavam e gritavam e batiam palmas e pareciam subir com
eles.Não tinham a sofisticação dos europeus, de onde vieram. Mas cumpriam a
sina de fazer um povo mais feliz, pelo
menos por uma noite. Mesmo que por um momento. Passaram os tempos e outros
modismos chegaram. Eu já não passava minhas férias no interior e vivia a
turbulência dos anos 60 na capital. Anos em que, pelos nossos céus os balões
que despertavam São João já não tinham espaços. Lá em cima, confundindo-se com
as estrelas, estavam os satélites, que naqueles tempos chamavam de “satélites
artificiais”, lançados pelas sofisticadas bases dos Estados Unidos e União
Soviética.
Vez por outra passava um. Havia os olhares das
pessoas para o céu. Mas sem a alegria e a beleza dos velhos balões. Alegria e
beleza tornaram-se sinônimos de perigo, de iminência de incêndio. Hoje, os balões
das festas de junho e dos baiões de Luiz Gonzaga e de tantos outros, perderam o
charme. Agora são vilões, significam risco. Transformam em réu quem insistir em
soltá-los. É o mundo em mutação. Na conta de chegada herdamos um mundo melhor,
com mais de mil e uma vantagens.
Mas ficamos com um céu de estrelas sem brilho e sem
a beleza e a alegria dos balões. Estava escrito.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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