Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
Sem planejar minha viagem de lazer com a família,
acabei chegando ao Rio de Janeiro nestes dias de Rio+20, a conferência de
cúpula das Nações Unidas que tentará costurar acordos e compromissos em torno
da questão do clima e da degradação do planeta, na busca do chamado
desenvolvimento sustentável. Sorte. Por causa disso, fui contemplado com uma
cidade ainda mais ornamentada de cores e luzes, com monumentos e prédios
históricos restaurados e limpos, mais alegria nas ruas na véspera do inverno e,
claro, os problemas que sempre emergem quando muita gente se aglomera, como
trânsito caótico e o desequilíbrio entre procura e oferta que acirra os ânimos
dos especuladores.
Não participo como militante ou jornalista, e muito
menos como negociador, de nenhum dos 500 eventos programados em torno do eixo
da cúpula de governantes, que se iniciará amanhã. Como cidadão do mundo, no
entanto, torço para que a vida proporcione desvios que permitam aos gestores de
boa vontade driblar o boicote dissimulado dos países ricos à iniciativa da ONU
— uma clara demonstração de nossa inconsciência e de nossa imensa capacidade de
complicar as coisas simples, impulsionados pelo egoísmo.
Chegamos à beira do abismo inspirados em modelos
político-econômicos que, independentemente da coloração ideológica, tem seus
fundamentos na idéia de acumulação e maximização infinitas que, por sua vez,
servem ao propósito de domínio, controle e prazer. Atrás de tudo, como pano de
fundo de nossa inconsciência generalizada, paira a idéia de que existimos
separados da natureza e do universo, a mesma que, no nível das relações
pessoais, leva-nos a desvalorizar o outro e sua diferença, alimentando todo
tipo de desrespeito, segregação e opressão.
É lamentável que, diante da Terra exaurida e da
ameaça de escassez e fome em futuro próximo, os países só consigam enxergar o
dado superficial da crise econômica e do desemprego e, para resolvê-los,
continuem a trabalhar com a mesma fórmula de progresso indiscriminado, um fazer
a roda girar sem considerar consequências e, sobretudo, sem revisar fundamentos
e implicações éticas.
Acredito que sem mexer na nossa visão de mundo
dificilmente chegaremos a algum lugar de equilíbrio e sustentabilidade sem mais
caos e sofrimento. E reforço minha convicação diante de uma preciosidade da
arte-denúncia exposta no coração do Rio, a Cinelândia: a exposição “A Terra
vista do céu”, com suas fotos belíssimas e chocantes clicadas pelo fotógrafo
francês militante Yann Arthus-Bertrand. A partir de helicópteros e balões, Yann
nos chicoteia com ângulos inéditos da poluição, da devastação e da pobreza
gerados por nossa cegueira social.
Como curar feridas tão profundas sem uma mudança
radical? Impossível. Não haverá solução sem considerarmos o apelo que vi numa
das salas da exposição Humanidade 2012, outro evento paralelo à Rio+20, no
Forte de Copacabana: “O desafio que se coloca no umbral do século 21 é o de
mudar o curso da civilização. desviar
seu eixo da lógica dos meios a serviço da acumulação para a lógica dos fins em função
do bem-estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos”.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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