acesse o RN blog do jornalista João Bosco de Araújo [o Brasil é grande; o Mundo é pequeno]

terça-feira, 19 de junho de 2012

Artigo: Rio+20

Por Jomar Morais*
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br

Sem planejar minha viagem de lazer com a família, acabei chegando ao Rio de Janeiro nestes dias de Rio+20, a conferência de cúpula das Nações Unidas que tentará costurar acordos e compromissos em torno da questão do clima e da degradação do planeta, na busca do chamado desenvolvimento sustentável. Sorte. Por causa disso, fui contemplado com uma cidade ainda mais ornamentada de cores e luzes, com monumentos e prédios históricos restaurados e limpos, mais alegria nas ruas na véspera do inverno e, claro, os problemas que sempre emergem quando muita gente se aglomera, como trânsito caótico e o desequilíbrio entre procura e oferta que acirra os ânimos dos especuladores.

Não participo como militante ou jornalista, e muito menos como negociador, de nenhum dos 500 eventos programados em torno do eixo da cúpula de governantes, que se iniciará amanhã. Como cidadão do mundo, no entanto, torço para que a vida proporcione desvios que permitam aos gestores de boa vontade driblar o boicote dissimulado dos países ricos à iniciativa da ONU — uma clara demonstração de nossa inconsciência e de nossa imensa capacidade de complicar as coisas simples, impulsionados pelo egoísmo.

Chegamos à beira do abismo inspirados em modelos político-econômicos que, independentemente da coloração ideológica, tem seus fundamentos na idéia de acumulação e maximização infinitas que, por sua vez, servem ao propósito de domínio, controle e prazer. Atrás de tudo, como pano de fundo de nossa inconsciência generalizada, paira a idéia de que existimos separados da natureza e do universo, a mesma que, no nível das relações pessoais, leva-nos a desvalorizar o outro e sua diferença, alimentando todo tipo de desrespeito, segregação e opressão.

É lamentável que, diante da Terra exaurida e da ameaça de escassez e fome em futuro próximo, os países só consigam enxergar o dado superficial da crise econômica e do desemprego e, para resolvê-los, continuem a trabalhar com a mesma fórmula de progresso indiscriminado, um fazer a roda girar sem considerar consequências e, sobretudo, sem revisar fundamentos e implicações éticas.

Acredito que sem mexer na nossa visão de mundo dificilmente chegaremos a algum lugar de equilíbrio e sustentabilidade sem mais caos e sofrimento. E reforço minha convicação diante de uma preciosidade da arte-denúncia exposta no coração do Rio, a Cinelândia: a exposição “A Terra vista do céu”, com suas fotos belíssimas e chocantes clicadas pelo fotógrafo francês militante Yann Arthus-Bertrand. A partir de helicópteros e balões, Yann nos chicoteia com ângulos inéditos da poluição, da devastação e da pobreza gerados por nossa cegueira social.

Como curar feridas tão profundas sem uma mudança radical? Impossível. Não haverá solução sem considerarmos o apelo que vi numa das salas da exposição Humanidade 2012, outro evento paralelo à Rio+20, no Forte de Copacabana: “O desafio que se coloca no umbral do século 21 é o de mudar o curso da civilização.  desviar seu eixo da lógica dos meios a serviço da acumulação para a lógica dos fins em função do bem-estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos”.

*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Copyright © AssessoRN.com | Suporte: Mais Template