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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O buraco é mais em cima

Por Paulo Tarcísio Cavalcanti*
 Jornalista tarcisiocavalcanti@bol.com.br http://ptarcisio.blogspot.com

A espetacularização da luta contra a corrupção, por maior audiência que dê, não leva à solução do problema. Penso eu.

Na realidade, a espetacularização interessa aos corruptos maiores. Acho até que eles é que a promovem como forma de conter a indignação da massa. Ou, então, quando um deles é flagrado querendo ser mais esperto do que os outros. Fora disso, os corruptos maiores nunca aparecem. Ficam na moita; num mundo muito distante do nosso; numa outra realidade, tão diferente daquela que encaramos todos os dias, que mal conseguimos imagina-la.

Não é fácil o combate da corrupção. Se fosse, de tão antiga que é, já a teriam exterminado. Por que ela resiste há milênios de história? Primeiro, porque ela é forte mesmo. Segundo, porque, ao longo do tempo, nós – a turba, o povão – jamais paramos pra pensar, pra definir uma estratégia de luta mais racional, e temos nos saciado com a pura e simples espetacularização, que os verdadeiros corruptos, os maiores, manipulam com esmerada competência e primorosa habilidade.

Um lugar comum da luta contra a corrupção é o de que os maiores corruptos estão na classe política. Não vou dizer que discordo. Mas, tenho, sim, minhas dúvidas a respeito dessa conjectura.

Por uma razão muito simples. Se os políticos, que precisam de nossa crença, do nosso voto; tendo que nos olhar de frente, no nosso olho, muitos deles ainda nos enganam; imagine aqueles que, não sendo políticos sem precisar da nossa crença e do nosso voto; nem de nos encarar olho no olho, chegam aos postos mais importantes da administração e do serviço público na nossa República? Saia da frente.

O buraco é muito mais em cima. Alguém já fez a conta para imaginar quanto é que o poder público brasileiro – em seus três níveis – movimenta todos os dias em dinheiro, comprando – de um simples rolo de esparadrapo a uma plataforma de petróleo? Contratando serviços -desde a limpeza de uma janela a um complicado sistema de informática? Da recuperação de uma calçada de praia a uma mega–usina, uma grande ponte? Todo dia, todo dia, todo dia, sem parar?

São bilhões de reais. Todo dia. E o que aparece na espetacularização, mesmo no caso de um Carlinho Cachoeira? Migalhas. Nada mais do que migalhas. Só o que eles querem mostrar.

Por isso, não me canso de repetir: o caminho é outro.

*Texto publicado na coluna do jornalista na edição desta quarta-feira (2), do NOVO JORNAL
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