Por
Paulo Tarcísio Cavalcanti*
Jornalista ▶
tarcisiocavalcanti@bol.com.br ▶http://ptarcisio.blogspot.com
A espetacularização da luta contra a corrupção, por
maior audiência que dê, não leva à solução do problema. Penso eu.
Na realidade, a espetacularização interessa aos
corruptos maiores. Acho até que eles é que a promovem como forma de conter a
indignação da massa. Ou, então, quando um deles é flagrado querendo ser mais
esperto do que os outros. Fora disso, os corruptos maiores nunca aparecem.
Ficam na moita; num mundo muito distante do nosso; numa outra realidade, tão
diferente daquela que encaramos todos os dias, que mal conseguimos imagina-la.
Não é fácil o combate da corrupção. Se fosse, de tão
antiga que é, já a teriam exterminado. Por que ela resiste há milênios de
história? Primeiro, porque ela é forte mesmo. Segundo, porque, ao longo do
tempo, nós – a turba, o povão – jamais paramos pra pensar, pra definir uma
estratégia de luta mais racional, e temos nos saciado com a pura e simples
espetacularização, que os verdadeiros corruptos, os maiores, manipulam com
esmerada competência e primorosa habilidade.
Um lugar comum da luta contra a corrupção é o de que
os maiores corruptos estão na classe política. Não vou dizer que discordo. Mas,
tenho, sim, minhas dúvidas a respeito dessa conjectura.
Por uma razão muito simples. Se os políticos, que
precisam de nossa crença, do nosso voto; tendo que nos olhar de frente, no
nosso olho, muitos deles ainda nos enganam; imagine aqueles que, não sendo
políticos sem precisar da nossa crença e do nosso voto; nem de nos encarar olho
no olho, chegam aos postos mais importantes da administração e do serviço
público na nossa República? Saia da frente.
O buraco é muito mais em cima. Alguém já fez a conta
para imaginar quanto é que o poder público brasileiro – em seus três níveis –
movimenta todos os dias em dinheiro, comprando – de um simples rolo de
esparadrapo a uma plataforma de petróleo? Contratando serviços -desde a limpeza
de uma janela a um complicado sistema de informática? Da recuperação de uma
calçada de praia a uma mega–usina, uma grande ponte? Todo dia, todo dia, todo
dia, sem parar?
São bilhões de reais. Todo dia. E o que aparece na
espetacularização, mesmo no caso de um Carlinho Cachoeira? Migalhas. Nada mais
do que migalhas. Só o que eles querem mostrar.
Por isso, não me canso de repetir: o caminho é
outro.
*Texto publicado na coluna
do jornalista na edição desta quarta-feira (2), do NOVO JORNAL
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