F.
Gomes
Por Eleika Bezerra*
Professora
▶ eleikabg@supercabo.com.br
Somente quem conheceu de perto o jornalista F. Gomes
tem a dimensão exata da covardia que representou o seu assassinato, à
queima-roupa, na calçada de casa, enquanto conversava com amigos, na noite de
18 de outubro de 2010. Repórter policial 24h por dia, ele fugia do figurino
clássico. Ter se tornado notícia, de forma tão cruel e covarde, parece ironia
para quem viver cobrindo esse tipo de notícia.
Não era repórter do tipo “porta de cadeia”, o que
registra até queda de bêbado, como se diz no jargão das redações. Experiente na
função, desenvolveu maneira própria de fazer a seleção natural dos temas. Era
amigo de “polícia” e conhecia bandidos, de tanto cobrir o setor.
Tinha um companheiro inseparável no cumprimento das
pautas. O fotógrafo Joanilson Araújo fazia questão que assinassem suas imagens
simplesmente como…“Saci”. Nunca explicou o por quê. Tinha de ser, sempre, Saci.
Está em Caicó, imagina-se. Mais do que
qualquer outro colega, foi quem mais sentiu o golpe com a morte jornalista.
F. Gomes era de falar baixo, baixíssimo até. De
excelente trato, humilde, era um cara que aparentava tanta tranquilidade que
até para começar uma discussão com ele era preciso, antes de mais nada,
pedir-lhe desculpas.
Surpreendia, aos colegas da capital, que numa cidade
bem menor, como sua Caicó, ele fizesse as duras matérias que fez, denunciando
tráfico de drogas, sindicatos do crime, assaltos e todo tipo de bandidagem,
fossem quem fossem os envolvidos. Tinha um programa na rádio que era o de maior
audiência na região. E não acreditava que pudesse ser morto por causa do
trabalho que realizava. Nesse quesito, tinha a imprudência dos corajosos.
Causa indignação saber que sua vida foi cotada a R$
10 mil. Pior ainda: que, segundo as investigações da polícia, a morte foi
tramada e executada por um grupo que reunia oficial de alta patente da PM,
advogado e até pastor religioso.
Para aqueles
que o conheciam mais de perto, a dor é bem maior ao constatar que o mundo,
privado da presença de um colega como F. Gomes, é obrigado a conviver com
corruptos de colarinho branco, com policiais que se misturam à bandidagem e com
advogados que se assemelham a marginais.
O trabalho feito pela polícia é parte do processo.
Resta ainda a conclusão, com o julgamento dos acusados. Não somente os inúmeros
colegas de F. Gomes, mas toda a sociedade aguarda o desfecho desse episódio.
Aceitar menos que a punição exemplar de todos os comprovadamente envolvidos
será permitir que cada profissional de imprensa seja igualmente agredido. A
impunidade será, além de vergonhosa, inaceitável.
*Texto publicado em sua
coluna no NOVO JORNAL
JBAnota – Muito oportuna as palavras da
professora Eleika nesse momento da “conclusão” que apurou os acusados da execução
do jornalista e radialista F.Gomes, covardemente assassinado na porta da sua casa,
após chegar do trabalho e estar conversando com vizinhos e, mais cruel ainda, ao
lado dos filhos, da família.
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