Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
Certa vez estraguei uma relação que se encaminhava
para a consolidação de uma amizade ao repetir a esmo a frase célebre do
jornalista Joe Pulitzer, cujo sobrenome nomeia o prêmio mais importante do
jornalismo americano: “O jornalista não tem amigos nem inimigos”. Meu
interlocutor, assustado, afastou-se de mim. Certamente, hoje, amadurecido e
menos voluntarioso, eu teria o cuidado de explicar o real significado da
sentença e, assim, evitaria a perda no meu círculo afetivo.
A máxima de
Pulitzer foi minha estrela guia enquanto fui repórter e editor.
Frequentei gabinetes de políticos influentes na
República, entrevistei presidentes e busquei a notícia junto a empresários de
peso e até banqueiros. Constituí uma malha de contatos nos escalões intermediários
que me ajudou a dar conta da missão de levar ao leitor o “furo” e a informação
qualificada. Nos últimos anos na ativa, conversei com pesquisadores do mundo
acadêmico e empreendedores do segmento turístico. E em todas essas etapas, meu
relacionamento com as fontes de informação, ainda que rotineiros, não passaram
do nível profissional.
Foi bom para mim (pois exerci minha profissão com
lisura), para as fontes (que puderam falar com a segurança de estar diante de
um profissional ético) e, sobretudo, para os leitores (que receberam informação
menos tisnadas pelo jogo de interesses). Logo, sou grato a Pulitzer e aos
mestres do jornalismo com quem convivi, que me reforçaram a convicção de que
não se deve escrever notícias para favorecer nem tampouco prejudicar ou
perseguir alguém.
Rememoro esses ensinamentos a propósito da recente
revelação do envolvimento de jornalistas e publicações com personagens do
submundo do crime vip.
O episódio não é novidade e foi bem mais presente no
jornalismo daqui e de outros países – inclusive os Estados Unidos – no tempo em
que fazer jornal era ofício de bêbados, politiqueiros e visionários
inescrupulosos. No caso em foco, porém, parece-me que estamos diante de uma
tragicomédia em que profissionais e publicações, na ânsia do “furo” e no desvio
do fervor ideológico, acabaram enredados na armadilha de mafiosos hábeis em
contracenar com a mídia no palco dos interesses imediatos, algo mais frequente
do que se imagina no cotidiano da imprensa.
É um preço alto e amargo que nós, jornalistas,
podemos pagar quando esquecemos a lição básica. A relação entre os jornalistas
e as fontes deve ser cordial e honesta, com a troca legítima baseada no
interesse de cada parte – a fonte querendo dar a informação que a beneficia e o
jornalista querendo obter a notícia relevante para o leitor – mas não deve ir
além disso.
Uma relação entre jornalista e fonte, não uma
relação entre amigos.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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