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terça-feira, 15 de maio de 2012

Artigo: Relações perigosas

Por Jomar Morais*

Certa vez estraguei uma relação que se encaminhava para a consolidação de uma amizade ao repetir a esmo a frase célebre do jornalista Joe Pulitzer, cujo sobrenome nomeia o prêmio mais importante do jornalismo americano: “O jornalista não tem amigos nem inimigos”. Meu interlocutor, assustado, afastou-se de mim. Certamente, hoje, amadurecido e menos voluntarioso, eu teria o cuidado de explicar o real significado da sentença e, assim, evitaria a perda no meu círculo afetivo.
 A máxima de Pulitzer foi minha estrela guia enquanto fui repórter e editor.

Frequentei gabinetes de políticos influentes na República, entrevistei presidentes e busquei a notícia junto a empresários de peso e até banqueiros. Constituí uma malha de contatos nos escalões intermediários que me ajudou a dar conta da missão de levar ao leitor o “furo” e a informação qualificada. Nos últimos anos na ativa, conversei com pesquisadores do mundo acadêmico e empreendedores do segmento turístico. E em todas essas etapas, meu relacionamento com as fontes de informação, ainda que rotineiros, não passaram do nível profissional.

Foi bom para mim (pois exerci minha profissão com lisura), para as fontes (que puderam falar com a segurança de estar diante de um profissional ético) e, sobretudo, para os leitores (que receberam informação menos tisnadas pelo jogo de interesses). Logo, sou grato a Pulitzer e aos mestres do jornalismo com quem convivi, que me reforçaram a convicção de que não se deve escrever notícias para favorecer nem tampouco prejudicar ou perseguir alguém.

Rememoro esses ensinamentos a propósito da recente revelação do envolvimento de jornalistas e publicações com personagens do submundo do crime vip.

O episódio não é novidade e foi bem mais presente no jornalismo daqui e de outros países – inclusive os Estados Unidos – no tempo em que fazer jornal era ofício de bêbados, politiqueiros e visionários inescrupulosos. No caso em foco, porém, parece-me que estamos diante de uma tragicomédia em que profissionais e publicações, na ânsia do “furo” e no desvio do fervor ideológico, acabaram enredados na armadilha de mafiosos hábeis em contracenar com a mídia no palco dos interesses imediatos, algo mais frequente do que se imagina no cotidiano da imprensa.

É um preço alto e amargo que nós, jornalistas, podemos pagar quando esquecemos a lição básica. A relação entre os jornalistas e as fontes deve ser cordial e honesta, com a troca legítima baseada no interesse de cada parte – a fonte querendo dar a informação que a beneficia e o jornalista querendo obter a notícia relevante para o leitor – mas não deve ir além disso.

Uma relação entre jornalista e fonte, não uma relação entre amigos.

*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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