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sábado, 28 de abril de 2012

Entre vitrines e pernas, o consumo ganha a parada

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br

Andava pelo shopping, com Zeníoma, e a dor fina no joelho cirurgiado denunciava que naquela manhã de sábado já tinha sido muito exigido.  Aproveitei o banco, em meio ao passeio, para atender a solicitação de arrego. Na falta de outra coisa a fazer fiquei olhando o vai-e-vem. “Onda que vem, onda que vai” que também existia na praça de Pedro Avelino, em tempos de adolescente. Rapazes sentados nos bancos ou em pé, no limite  da calçada na praça. No bolso de algibeira, o espelhinho redondo ilustrado, na parte de trás, com o desenho de menina de biquini tendo à mão o escudo de algum clube de futebol.

Vez por outra alguém  tirava o espelho do bolso para cuidar da ainda vasta cabeleira, penteada com o pente Flamengo ou Carioca.

Dando voltas na calçada que margeava a praça, as meninas exibiam os vestidos do domingo, que no máximo mostravam os joelhos. Ou nem isso. Vez por outra se apresentava um vento generoso aguçando olhares mais afoitos. Na lembrança chegaram tempos mais recentes, já em Natal. Tempos que precederam os shoppings e que faziam do Grande Ponto o local de encontro dos natalenses. Ainda existiam os espelhos redondos e os pentes Flamengo e Carioca, além dos isqueiros de metal, com pedra e gás exibidos, em modelos diferentes, pelos fumantes. Havia, do mesmo jeito, os desfiles das meninas sob os olhares da rapaziada que descansava o corpo encostado nos carros estacionados. Moças de vestido, também abaixo do joelho, olhares masculinos atentos esperando a oportunidade de algum “lance”. Uma festa, quando acontecia.

Saí de Pedro Avelino, do  Grande Ponto e estou de volta ao banco do shopping. Gente que vai, gente que vem. Já não há mais espelho redondo e pente flexível. Muito menos a preocupação com vestidos cobrindo os joelhos. Ninguém esperando por um pé de vento revelador de um palmo acima deles, mesmo porque o shopping é climatizado. Nada disso é preciso.

Pernas e coxas estão à mostra, com extrema naturalidade. Pernas que vão, pernas que vem. Sequer um olhar. O “lance” acabou, o vento acabou, o mistério acabou. Nada aguça a imaginação. No shopping, as vitrines chamando ao consumo, dominam os olhares.

*Texto publicado no coluna do jornalista na edição do Novo Jornal
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