por Albimar Furtado*
Jornalista
▶ albimar@superig.com.br
Corriam os dias e meses de 1967 e em mim crescia a
expectativa de conquistar, afinal, o primeiro emprego com carteira assinada.
Fruto de uma conversa do mano Auridan com o então chefe de reportagem Cassiano
Arruda, cumpria um estágio informal na redação da Tribuna do Norte. Num desses
dias me foi dado, acho eu, o teste definitivo. Mas não estou escrevendo para
falar de mim, coisa sem cabimento. É que
vi a notícia da morte do artista, o personagem daquele teste final que me jogou
nas redações.
“O mundo santo de Manxa”, foi o título que o talento
do saudoso Sebastião Carvalho jogou na matéria e que, fora de dúvidas, ajudou
na avaliação do chefe de reportagem. No salão grande da Tavares de Lira eu era apresentado
a Ziltamar Sebastião Soares de Maria, ainda muito jovem, aos 19 anos, que
voltava de uma exposição exitosa na galeria Domus, em Ipanema, Rio de Janeiro.
Tinha a missão de entrevistá-lo para a edição do domingo.
O rapaz tinha 19 anos apenas, mas um exercício longo
de entalhar madeira e muita vontade de viver. Ainda aos 11 anos transformava
pedaços de pau. Faca e lixa à mão, os galhos ganhavam cara e corpo de Joãos
Redondos. Fabricava também seus brinquedos. Em 1967, já morando na capital, trazia
o apelido, fruto de um tufo de cabelos brancos por trás da orelha esquerda,
contrastando com o negro da cabeleira ainda vasta. Era Mancha, com “ch”.
Depois, exigência da confraria dos artistas, tratou de jogar glamour na
assinatura de suas peças. De Mancha para Manxa. E assim ficou.
Na reportagem o rapaz que chegara de São Vicente
falou do sucesso que fizera sua exposição em Ipanema. Nascido de uma família de
artistas, foi percebido pelo primo Iaponi Araujo que, apostando em seu
potencial, articulou a exposição da galeria Domus. Foi notícia nos principais
jornais do Rio de Janeiro e vendeu todos os trabalhos expostos. Consolidou-se
entre os principais nomes do entalhe no Brasil. O mundo santo de Manxa, bem
aproveitado por Sebatião Carvalho, foi tirado de um dos trabalhos de críticos
cariocas. Chamou a atenção deles as figuras gravadas: eram Cosme e Damião, os
pastore, a Anunciação, São Sebastião. Neste, as flechas eram substituídas por
frutas regionais. “A influência da religiosidade do povo do Seridó”, disse
Manxa.
De longe, fiquei acompanhando Manxa. Me encantava o
monumento que fez , a pedido do então governador Cortez Pereira, para ser
colocado em frente ao Machadão, uma homenagem ao desporto. O descaso e a falta
de conservação fez o monumento sucumbir muito antes do próprio estádio. Ficaram
os outros, que todos já conhecem e que já foram relacionados nas matérias que
falaram da morte de Manxa.
Pois é, 45 anos após aquela reportagem teste-final,
no meu raquítico arquivo é uma das poucas, muito poucas, que guardei. E que
revi agora lembrando o artista de São Vicente.
*Texto publicado na
coluna do jornalista com post no Blog do NOVO JORNAL
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