Por Minervino Wanderley*
Marcelino, assim como tantos Pedros, Manueis,
Joaquins, era um cara tranquilo. Gostava de música, especialmente dos Beatles,
futebol, mulheres, um whisky, e assim ia levando sua vida. Casou-se uma penca
de vezes com Marias, Marisas, Joanas, Aídas, e, entre idas e vindas, ele ia
tocando o cotidiano.
Mas, um belo dia, o coração de Marcelino bateu mais
forte. Foi na aula de pintura que ele a viu (Pois é. Até em aula de pintura
esse camarada ia atrás de mulher!). Era uma menina de rosto bonito e o sorriso
mais ainda. Tiana era o seu nome. Ele foi se chegando e começaram a namorar.
Uns meses de beijos e carícias foram o suficiente para que ele juntasse os
trapos com ela. Meses bons. Amores à luz da Lua, promessas, viagens, e tudo
isso que um casal apaixonado faz.
Tudo levava a crer que o incorrigível Marcelino,
coração já duro de tantas batalhas - "Ele tem mais 100 cabaços nas
costas", diziam. -, tinha sido fisgado pelo amor. Parece mentira, mas até
os sonhos de ir morar no exterior ele deixou de lado pela brancosa. "Lá eu
não sei o que vai acontecer. Aqui o negócio tá garantido", justificava-se
ele junto aos amigos.
E assim foi. Durante anos, décadas até, ele a
branquinha viveram juntos. Era um amor bonito. Tão bonito quanto eram feias as
brigas que eles tinham. Foi então, depois de bem 25 anos de casamento, que o
incorrigível Marcelino sentiu que não sentia mais nada pela companheira. Tiana
também sentiu que não sentia mais nada por Marcelino. E, sem as frescuras de
divórcio, decidiram se separar. De nada adiantaram os apelos dos amigos comuns.
"Bicho, pense de novo", dizia um pra ele. "Mulher, tenha calma e
veja o que estão fazendo", dizia outra pra ela.
Tudo em vão. Marcelino e Tiana se separaram e cada
um tomou seu rumo. Porém, quis o destino (sempre ele), que, tanto Marcelino
quanto Tiana não encontrassem as 'tampas de suas panelas', como se diz.
Tentaram os errados e as erradas na esperança de encontrar o certo e a certa,
mas nada aconteceu. A solidão insitia em ser a companheira dos dois.
Mas, como tudo neste mundo tem um fim, o jejum de
amor de Marcelino chegou ao final. E foi assim, sem querer, que aquela sensação
invadiu seu corpo. Marcelino não acreditou. "Que danado é isso!",
pensou. A razão dessa dúvida era porque esse sentimento veio, sem quê nem mais,
porém de forma avassaladora, por uma pessoa que ele julgava que apenas fazia
parte do seu passado. Que nada! Bastou vê-la para o coração se descompassar. E,
pelo olhar dela, havia reciprocidade.
Pois bem. O destino (de novo ele!) foi buscar no
fundo do baú a figura de Elza, uma morena cheia de graça que ele namorou nas
suas andanças. Fazia algum tempo que ele não a via. Mas, para o amor, isso
pouco importa. Marcelino estava, outra vez, com a flecha do amor cravada no
coração. Como ele era de pouca conversa nesses casos, largou-lhe um beijo e
propôs casamento. Elza, hoje independente e dona de si, topou na hora.
A última notícia que se tem dele é que foi, com
Elza, é claro, para o Canadá buscar uma filha de nome Luiza que teimava em não sair
de lá.
Tenho saudades do grande e incorrigível Marcelino.
Tomara que ele tenha tomado juízo e se aquietado com Elza e seus doze filhos.
PS: Não tive mais notícias de Tiana.
*Jornalista
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