Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
A melhoria das condições de vida presenteou-nos, nos
últimos 100 anos, com uma longevidade inimaginável para os nossos antepassados.
No início do século 20, a expectativa de vida de homens e mulheres brasileiros
estava abaixo dos 40 anos. Hoje é de quase 74 anos para os homens e de 76 anos
para as mulheres. Deixamos de ser um país de jovens e já nos aproximamos do
estágio de regiões desenvolvidas onde a população idosa se impõe nas ruas e na
economia.
É certo que isso coloca o governo diante do desafio
de alterar as regras da previdência, estouradas pelo aumento de despesas que os
cálculos atuariais não previram. Mas o desafio maior está posto para a própria
sociedade: o de reavaliar a visão sobre o idoso, superando preconceitos
cristalizados numa época em que a exaltação da juventude e da beleza estimula a
discriminação e o cerceamento.
Não me refiro a uma ação superficial, no nível da
linguagem. Tem pouca relevância trocar “velhice” por “terceira idade”, se isso
não ajuda a manter as pessoas rotuladas integradas à rotina social. Na verdade,
essa é uma operação que precisa começar na cabeça dos velhos, dominada por uma
ideologia da juventude, que os empurra para uma destrutiva rotina de lamentos e
autopiedade, e pelos interesses, às vezes inconfessáveis, de alguns familiares.
É o primeiro passo para o idoso libertar-se da condição de semiescravo,
condenado a trabalhar além de seus limites ou a anular-se num círculo de
superproteção que o retira da vida bem antes da morte.
Na semana passada, surpreendi-me com a minha mãe,
saudável nos seus 76 anos, queixando-se de não poder comparecer à
hidroginástica por que não havia quem a transportasse. Parece razoável, mas não
é. O que levaria idosos saudáveis a se colocarem como dependentes dos mais
jovens, a não ser a idéia introjetada de que o seu tempo já passou? Contei-lhe
então sobre a japonesinha de 70 anos que há pouco encontrei num trem do Peru. O
marido, piloto aposentado, acha que já não tem o que desbravar e prefere não
sair de casa.
A velhinha, convicta de que a vida continua,
aventura-se pelo mundo. Naquele dia, ela escalaria a montanha de Machupicchu.A
palavra chave para se viver bem na velhice é aceitação. Entender os ciclos da
existência e adaptar o ritmo pessoal às circunstâncias. É possível manter-se
saudável, operante e criativo nessa fase, como comprovam as trajetórias de
cientistas, empreendedores e artistas ativos bem depois dos 60, 70, 80 anos. E
é possível desfrutar dos prazeres da vida, de um jeito sereno e profundo, se a
mente está livre da prisão dos padrões – inclusive os de juventude e beleza.É
possível ser velho e ser feliz.
*Com post no blog do Novo
Jornal e no site do autor
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