Jornalista ▶
jomar.morais@supercabo.com.br
Quem já viveu pelo menos 50 anos conheceu três cenários de
geopolítica e sabe que, num mundo marcado pela abundância de informação, o
poder jamais voltará a ser concentrado sem que se pague um alto preço de caos,
sangue e retrocesso.
Nasci pouco depois de o planeta ser divido pelos dois países que
assumiram o espólio da grande guerra, ruminando desejos de hegemonia que
continuariam a promover a tirania e o medo, sobretudo em nações subjugadas ao
interesse econômico e ideológico. Era o tempo em que, sob o maniqueísmo da
“guerra fria” entre os Estados Unidos e a falecida União Soviética, pensávamos
o Brasil pela bitola estreita do nacionalismo ou do entreguismo, descrentes das
possibilidades criativas de nossa essência mestiça.
Mais tarde, atuando em jornalões e revistas conservadores, vivi
a delícia e a dor de um mundo de potência única (os Estados Unidos) ditando
tendências e deslumbrando as elites, aí incluidos os gestores da mídia. Copiar,
pura e simplesmente, as experiências de fora era a regra. Quem se atreveria a
contestar os gurus da nova economia, os bambas da reengenharia, os arautos do
mercado financeiro? Quase ninguém. Pelo menos até que os castelos começassem a
ruir, as fraudes abalassem fundamentos e espertalhões fossem varridos por
crises geradas na ganância e no egoísmo.
Não é que essas etapas nada tenham acrescentado à humanidade.
Pelo contrário. Em nenhuma outra época tivemos tantos saltos de desenvolvimento
econômico, tecnológico e mesmo social. Mas em outro quadro político certamente
teríamos pagado um preço menor em insalubridade física e emocional.
Agora vemos emergir um mundo multipolar, sem potências
hegemônicas, o que é promissor para as relações internacionais, a criatividade
e as condições sociais. E nesse contexto cresce o papel e a responsabilidade do
Brasil e dos brasileiros. Por nossa expressão econômica, nosso bom desempenho
diplomático e pela imagem positiva de nossas peculiaridades étnicas somos,
hoje, um dos polos dessa nova geopolítica com possibilidades inovadoras.
Nos países do Mercosul, nossa influência cultural e nossa
presença econômica já são avassaladoras. Na Europa e nos Estados Unidos a marca
Brasil é vista com respeito e nossa cultura há muito deixou de ser um item
exótico. Então, cabe perguntar: que tipo de potência queremos ser? Queremos tão
somente acumular tesouros ou compartilhar oportunidades com nossos parceiros?
Queremos interagir com outras culturas ou simplesmente impor a nossa? Queremos
ser amados, como somos agora, ou temidos e odiados? É saudável nos sentirmos
relevantes no mundo… desde que isso não nos tire a paz e a alegria de conviver.
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