Por Walter
Medeiros*
– waltermedeiros@supercabo.com.br
Dia desses, comentando com uma amiga sobre um fato
ocorrido nos anos setenta, quando ela emprestou sua casa no Alto do Juruá para
estudantes da UFRN realizarem uma reunião política clandestina, ela ficou meio
sem jeito, pois não fazia parte do grupo, já que era, então, formada, e
voltou-se com uma resposta inesperada: “Walter, eu acho que você está ficando
velho”. Interessante como é fascinante lembrar coisas que ocorreram em momentos
nos quais quem não foi contemporâneo do contexto jamais saberá realmente a sua
importância, por mais simples e aparentemente sem influência que tais coisas
pareçam.
Quando falam em velhice, trago exemplos que me
estimulam a tratar o tempo com mais tranqüilidade, pois ainda não tenho direito
à vaga de idoso, embora tenha a certeza de que alguns cabelos brancos que já
tenho seriam suficientes para ninguém questionar o uso de uma delas ou até a
utilização de filas preferenciais em supermercados e outros lugares. Mas nem
tenho idade nem minha consciência permitiria tal contravenção. Ao renovar a
minha habilitação, ano passado, quiseram entregar-me uma ficha preferencial,
mas expliquei que teria ainda de entrar na fila comum.
Os exemplos acima referidos são comparações que faço
entre uma mulher de 35 anos que encontrei na Serra do Sobrado, em Mata Grande,
Alagoas, município que me concedeu o honroso Título de Cidadão. Lugar distante,
alto, de acesso íngreme, aquela lavradora é casada, tem filhos e se considera
velha para aprender a ler. Mais recentemente, encontrei um rapaz de 40 anos, de
Ceará-Mirim, que sonha em voltar para sua cidade para se estabelecer
definitivamente, por se achar velho e sem muitas outras coisas prá fazer na
vida. A única razão nos seus argumentos poderia ser o fato de não ter mais
nenhuma chance de se projetar como jogador de futebol.
Tem o terceiro exemplo, que é o grande estímulo: meu
sogro, 95 anos, atravessou duas guerras mundiais, viu chegarem os primeiros
automóveis no sertão, criou gado, plantou, dirigiu, viajou, dançou forró e tudo
mais. Pois bem: ele tem como parâmetro Oscar Niemeyer e outros longevos, para
afirmar sempre que quer viver pelo menos 120 anos. Na passagem de ano estava lá
na Pedra do Rosário assistindo aos fogos da Ponte Newton Navarro, caminhando
sem problemas e sem doença nenhuma. Festejava mais um belo momento do Ciclo
Natalino.
Hoje, 6 de Janeiro, a grande festa é de Santos Reis.
Aí tenho de relembrar, mesmo sem ser velho ou idoso, uma noite em que fui com
uma amiga para aquela comemoração tão tradicional de Natal. Ainda tinha poucas
barracas, a Missa e um Parque de Diversões. Depois de passearmos, comermos
alguns salgados e doces, resolvemos andar na Roda Gigante. Lá de cima, ainda
uma vista sem a cortina de edifícios, a ponte nova e nem mesmo a Zona Norte,
pois havia apenas Redinha e Igapó eis que tomamos um susto com um movimento
brusco. Faltou energia. Justo na hora em que estávamos no ponto mais alto. O
apagão demorou muito. E não se dignaram e desembarcar quem estava na roda com
tração manual. Foi triste. Mas transformou-se numa bela lembrança para mim e
minha amiga.
*Jornalista
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