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sábado, 19 de novembro de 2011

Segurança psicológica


Toda segurança é psicológica. Nenhuma porta é inabalável. Nenhum cadeado, inviolável. Nenhum guarda (honesto), inexpugnável. Nenhum firewall, intransponível. Não é que eu considere essas invenções destinadas a proteger as pessoas da ação lesiva dos marginais totalmente inócuas. O que quero dizer é que sua eficácia acontece muito mais no âmbito psicológico, estabelecendo crenças e expectativas que nos proporcionam conforto, ao mesmo tempo em que desestimulam a ousadia do delinquente preguiçoso, ansioso ou sem criatividade.

Você concordará comigo se relembrar as notícias espetaculares – e indigestas – que a TV nos serve na hora do jantar. A rapina cinematográfica no cofre do Banco Central… O roubo no cofre do Itaú, onde ricaços paulistanos guardavam jóias e dinheiro nem sempre passíveis de comprovação legal… Os assaltos a mansões cercadas de engenhocas eletrônicas e vigias… As contas bancárias violadas pela internet… Os ataques a computadores do Palácio do Planalto e até aos das Forças Armadas dos Estados Unidos…

Fatos assim tornam irrefutável o meu argumento inicial, mas não foram eles que me levaram ao tema em foco. Minha inspiração vem de acontecimentos  corriqueiros de minha experiência e do arrombamento, no último final de semana, do imóvel onde funciona o Sapiens, um grupo onde reúno amigos interessados em filosofia e meditação.

O assalto, o segundo em sete anos, dessa vez foi assinalado por um protesto inusitado: insatisfeito por não ter encontrado ali bens que lhe valessem o esforço de estourar cadeados e grades, o ladrão marcou sua passagem com uma escultura de excrementos no centro da sala. Que a segurança efetiva só existe no discurso de quem fatura com essa indústria montada sobre o medo das multidões, eu já sabia.

Foi, porém, ao assistir a agilidade de um simples chaveiro, ao destrancar o meu carro, que me convenci de que todas as portas do mundo estão sempre escancaradas. E assim também todos os cofres e todas as malas e mochilas. Em 2009, em viagem, eu mesmo livrei-me do vexame de não poder a abrir a própria mochila, cuja chave se extraviara, ao recordar um truque que me fora ensinado por um vendedor de bolsas. Com uma simples esferográfica, resolvi o meu problema.

Segurança? Se há vestígios dela no mundo real, devemos isso mais à honestidade dos chaveiros e à sobriedade de quem sabe os truques do que a invulnerabilidade de apetrechos e sistemas. E assim será se algum dia forjarmos uma sociedade com menos delitos e deliquentes. A segurança efetiva só pode ser assegurada por uma ética que leve em conta a dignidade humana e os valores maiores da compaixão e da solidariedade.

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