Sheyla Azevedo
Jornalista ▶ azevedo.sheyla@gmail.com
— A Juliana está?
— Não. Não mora ninguém aqui com este nome, viu? Desculpe.
Assim mesmo. A senhora atende ao telefone e, ao perceber que é engano, pede desculpas por não poder ajudar.
No dia seguinte, o telefone toca de novo.
— A Juliana está? – A mesma voz com a fingida displicência de quem mantém esperanças de a própria Juliana atender.
— Não meu filho. Não mora nenhuma Juliana aqui, meu amor! – Fala, trocando o pedido de desculpas por um carinho inacreditável para qualquer pessoa que recebe insistentemente uma ligação do outro lado da linha.
A cena se repete por vários dias. Sempre a mesma voz masculina. Depois de alguns dias na empreitada solitária, ele arrumou companhia na busca pela moça e passou a alternar com uma voz feminina, a infindável esperança de encontrar Juliana. A senhora continua simpática ao dizer que “não, nesta casa não mora nenhuma Juliana.Quem dera morasse, e eu acabasse com sua busca ageográfica”.
Será que Juliana deu o número errado? Será que ele ouviu o número errado? Será que, ao pedir a amiga para ligar, ele não pensa driblar uma “mãe possessiva” que não quer que a filha tenha encontros amorosos? Será que, de tanto ligar para o número daquela casa, Juliana não se materializará e, qualquer dia em qualquer hora dessas, ele não ouvirá a sua voz do outro lado da linha? Talvez ele nunca mais veja Juliana. Talvez tenha sido só uma confusão imaginativa do desejo profundo que nasceu dentro do peito de reencontrar uma moça que só mora por trás dos muros dos seus sonhos.
Bernardo. É preciso dar um nome ao rapaz que insiste em encontrar Juliana. Aquela moça gentil que se fixou nos seus quereres como fl or nove horas que brota no canto da calçada. Bernardo sente saudades. Toma sopa de feijão à noite e espera o dia seguinte chegar até discar de novo aquele número e ouvir a voz da doce e paciente senhora que nega como quem promete algo melhor. Que não dá palpites contrários à sua vontade e ouve a pergunta como se fora a primeira vez, como fazem os gatos cheirando e observando os mesmos cantos do jardim.
Bernardo quer dar uma rosa para Juliana. Quer tornar-se o homem romântico como não se aprende nas novelas. Quer até aprender a fazer versos de amor. Bernardo quer um retrato de Juliana e seus olhos de santa moderna. Quem sabe, olhando para aqueles olhos, não se contentaria com tanto silêncio de Juliana.
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