--- Walter Medeiros* [waltermedeiros@supercabo.com.br]
A semana começa com o sol aberto, temperatura
elevada, trânsito da segunda-feira de acordo com a retomada do serviço, depois
do feriado do Dia do Servidor seguido de fim de semana. No caminho da Unicat,
Graça tira dúvidas sobre as plantas e um pé de ipê que ostenta algumas flores
no canteiro da avenida. E aos poucos nos preparamos para a rotina do
atendimento ao público e preocupações com o andamento do nosso serviço.
Como sempre, esperávamos encontrar aquele rosto
jovem, alegre, brincalhão, porém forte e sério quando necessário, de uma das
nossas colegas de trabalho. Ela foi das primeiras pessoas com quem mantivemos
contato. Ajudou a nos acolher em nosso novo ambiente de trabalho, há poucos
meses. Farda caqui, botas e boné, que não tiravam em nada sua vaidade,
principalmente mostrada em seu longo cabelo.
De longe nem vimos que ela não estava em seu local
de trabalho. Até porque antes mesmo já nos informavam que a violência tão
presente em nossa sociedade a havia atingido. Jovem, 28 anos, com filhos
adolescentes, havia sido mais uma vítima. Pelo ar chegavam as palavras
inesperadas, chocantes, lamentáveis: “mataram Emmanuelle”. Emmanuelle era a
vigilante que orientava o serviço no atendimento preferencial da Unicat. Foi
assassinada com seis tiros.
Nem tivemos tempo de conhecê-la melhor, de conhecer
seus filhos, seus familiares. Apenas sabíamos que era separada do marido. O mais,
era no trabalho o seu expediente imenso, sempre atenta, respeitosa e vigilante,
como manda a sua profissão. E os sonhos que tinha de melhorar de vida, para
usufruir melhor as coisas do mundo e garantir aos seus filhos uma vida digna e
um bom futuro. Sempre se procura retardar um adeus; mas em algum momento isso é
impossível. Por isso temos de dizer agora, sem ter para quem apelar: “Adeus,
Emmanuelle! Que a sua vida eterna lhe dê boa guarda”.
Na recepção onde ela trabalhava, outro vigilante
está cumprindo seu horário. Mas a cadeira onde ela sentava está parada junto à
parede. Sobre ela alguém colocou uma rosa vermelha, em homenagem à colega de
trabalho.
*Jornalista
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