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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Marcante lembrança

Paulo Tarcísio Cavalcanti
Jornalista tarcisiocavalcanti@bol.com.br]

Lendo, há alguns dias, reportagem com a cobertura da visita do ator Reinaldo Gianechini (que Deus o proteja) a uma casa de crianças com câncer, em São Paulo, fi z uma viagem no tempo e me vi, em 1998, vivendo uma situação parecida. Foi aí que tive uma noção muito concreta de que “Deus escreve certo por linhas tortas” e que, nem sempre, somos capazes de entender ou de traduzir, integralmente, o recado que ele vive a nos transmitir.

Eu também tinha acabado de receber a notícia de que estava com câncer e, no meu caso específi co, só havia uma alternativa – pra dá certo ou não – o tratamento cirúrgico. Eu estava completamente desnorteado, fulminado, literalmente, abatido. Desejei muito poder ter encontrado pessoalmente ou de qualquer outra forma, alguém que, pela sua experiência, pudesse me transmitir alguma esperança de que “aquilo” – a descoberta de que estava com câncer – podia não ser o fim.

Não encontrei. Vali-me de um amigo que passou momentos piores. Ela não tivera câncer, mas estava com filho sofrendo da doença há algum tempo. Nunca tinha visto, tão de perto, uma família sofrer tanto e viver esse sofrimento de forma tão digna e engrandecedora. Fui encontrar o amigo José Adécio, sua esposa, Neyde e os filhos Adecinho, Gustavo e Eduardo numa casa de criança com câncer. A força que eles me proporcionaram, já contei em artigo que escrevi na época e foi incorporado ao livro “Câncer – Refl exões de um sobrevivente”, que Abmael Silva editou no ano 2000.

Mas, além dessa força, outra conseqüência marcante da visita à casa, foi o impacto da constatação da verdade que passei a admitir como fato consumado: “Deus escreve certo por linhas tortas”. Eu não podia admitir que aquelas crianças estivessem sendo castigadas. Que eu, na época prestes a completar 54 anos, estivesse sendo, tudo bem. Pra mim, ainda inconformado com aquele momento tão difícil, era uma “injustiça”, mas, enfim…

Era o desígnio divino e eu não teria a mínima chance, se tivesse me atrevido a contestá-lo ou, mesmo, a ousadia de clamar por um gesto de clemência. Quantas daquelas crianças de 1998 estarão hoje podendo contar a sua história? O saudoso e brilhante jovem Eduardo, sei que não está. Esta dolorosa lembrança que transformo em artigo é uma homenagem à sua memória, na convicção de que, no julgamento de Deus, ele veio e cumpriu sua missão.

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