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sábado, 13 de agosto de 2011

Artigo: Aluízio, um homem chamado esperança



O que fazia aquele menino magro de terno branco e calça curta, com um chapéu entre os dedos, cobrindo parte inferior do corpo, no meio daqueles homens sisudos – entre os quais, alguns com idade de ser seu avô – na fundação do Partido Popular em 1933?  Buscava seu destino aos 11 anos: ser político. A partir daí, tornou-se o redator de atas das reuniões do partido, despertando a curiosidade de todos. Nascia o jornalista atento aos fatos e fiel à narrativa. Estas duas grandes paixões conduziram Aluízio Alves ao cenário político nacional.
Neste 11 de agosto, ele estaria completando 90 anos. Sua memória será lembrada por familiares e amigos. Teve uma vida longa repleta de emoções. Constaram do percurso virtudes e defeitos, acertos e erros, inerentes à condição humana. Foi o maior líder popular do Rio Grande do Norte.  Orador carismático e sedutor de multidões. Ainda aos 12 anos, fundou, em Angicos, “O Clarim”, jornal com tiragem inédita de um único exemplar, que circulava de casa em casa pela cidade, distribuído pelo próprio redator. Aos 13, já era conhecido como tribuno fluente nas campanhas políticas da época.

Aos 14 anos, escreveu um artigo virulento no jornal “A Razão”, ligado ao Partido Popular, contra o interventor Bertino Dutra, durante o governo provisório de Vargas, o que o deixou profundamente irritado, a ponto de mandar prendê-lo. Somente desistiu do intento ao saber que se tratava de um menor, mas transferiu a responsabilidade para seus pais – Sêo Nezinho e dona Liquinha -, culpando-os pela insolência do filho. Posteriormente, na gestão do interventor Mário Câmara, o jornal foi empastelado pelos jagunços do deputado Benedito Saldanha, que espalhou violência pelo interior do estado.

A oportunidade na vida pública surgiu aos 23 anos, quando Aluízio Alves disputou uma cadeira de deputado federal em 1945 pela legenda UDN.  O empresário Dinarte Mariz, um dos caciques do partido, o indicou para ser candidato a deputado estadual, como representante dos estudantes. Como faltou vaga na chapa estadual para acomodar o correligionário Agenor Lima, que ameaçava romper, Aluízio aceitou ser deslocado para a Câmara Federal. A UDN elegeu apenas dois deputados: José Augusto Bezerra de Medeiros e Aluízio Alves. Sua eleição foi a grande surpresa daquela campanha.

Sua presença na tribuna da Câmara despertou a curiosidade ao velho caudilho Flores da Cunha (UDN-RS), que se virou para colega José Augusto e perguntou:

- Quem é esse menino?

- Aluízio Alves, do Rio Grande do Norte, respondeu Zé Augusto.

- Ele vai ser seu sucessor na vida púbica – vaticinou o experiente político gaúcho.

Aluízio seria reeleito quatro vezes seguidas com votações consagradoras até chegar ao governo do Estado em 1960. Assumiria a vaga deixada por José Augusto, uma delegação espontânea do velho líder seridoense. Confirmara-se a previsão de Flores da Cunha. Logo no primeiro mandato, foi a relator do projeto da Lei Orgânica da Previdencia Social, uma das grandes conquistas de constituinte de 1946, promulgada no ano seguinte.

Chegou ao governo na memorável campanha de 1960, marcada pelo radicalismo político. Apesar de ser o secretário geral da UDN, quando o partido era presidido pelo compadre Magalhães Pinto, não foi candidato pela legenda à qual pertencia desde 1945. O então governador Dinarte Mariz, que tinha o controle do partido no Estado, apoiou a candidatura do deputado Djalma Marinho ao governo do Estado. Aluízio foi buscar no PSD a densidade eleitoral que precisava para enfrentar a máquina oficial.

A campanha polarizou o Estado, que se dividiu em cores, gestos e bandeiras, num clima emocional que separou famílias, vizinhos e amigos. Escolheu a esperança como símbolo de sua campanha, por sugestão de Grimaldi Ribeiro, leitor de André Malraux, autor de “L’espois” (esperança). Na saudação que fez a Aluízio, durante o banquete de lançamento de sua candidatura, afirmou: “eis alguém por que se espera; alguém que se chama esperança”.

Aluízio venceu a luta fratricida e assumiu o governo fugindo ao tradicional feijão com arroz e introduzindo o planejamento como meta de governo. Criou a Cosern, Telern, Fundação Habitacional, Casol, Hotel dos Reis Magos (turismo) abriu estradas e pavimentou rodovias. O Rio Grande do Norte ingressava na modernidade, através dos instrumentos indispensáveis ao desenvolvimento. O estado saia do atraso em que se encontrava há décadas.

Sua única frustração na vida pública foi não ter chegado ao Senado. Na primeira tentativa, foi vetado pelo autoritarismo. Sua eleição seria uma desfeita ao senador Dinarte Mariz, arauto do novo regime. Nas outras vezes, cedeu vaga a companheiros do PMDB. Foi cassado pelo AI-5 juntamente com os irmãos Garibaldi e Agnelo. Com a redemocratização do país, foi ministro da Administração (governo José Sarney) e da Integração Regional (gestão Itamar Franco). Cumpriu a missão que lhe fora destinada. Sua trajetória política está perpetuada na história do RN, acima das querelas provincianas.




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