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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A banalização do mosquito

Por Flávia Lelis*

O Brasil convive com a dengue como grave problema de saúde pública há 15 anos. Ao passo que o mosquitoAedes aegypti foi erradicado na América do Norte e Central desde 1970.  Estaríamos nós num retrocesso de mais de 40 anos? O que houve de errado? Não tínhamos planejamento ou a estratégia traçada foi equivocada?

Na década de 70, o governo federal, por meio de campanha publicitária, levantava a bandeira‘Povo desenvolvido é povo limpo’, onde o personagem Sugismundo incentivava a limpeza nas cidades. O boneco, criado por Ruy Perotti, era carismático e de imediato conquistou a criançada. Mas muito se questionou sobre a eficiência da estratégia publicitária adotada. Diziam que as crianças e a população, de forma geral, simpatizadas com o personagem, interpretaram a mensagem midiática com viés oposto ao do objetivo proposto: o caráter de alerta teria sido relegado a segundo plano, e, ao assistir as peças publicitárias na TV as pessoas se divertiam com o personagem.

Fato semelhante também ocorreu nas campanhas publicitárias de combate à dengue no Brasil. Com abordagem ‘leve’, o mosquito transmissor foi retratado como um bichinho quase que inofensivo. O Aedes aegypti foi visto tomando água de coco de pernas cruzadas, deitado em redes de descanso... Foi até mesmo desenhado com camisetas de times de futebol.

Mas é fato que algum criativo teve um insight e percebeu-se que o tom na mídia deveria mudar. E mudou. A abordagem midiática passou de ‘Dengue pode matar’, para ‘Dengue Mata’. Retrato fidedigno da realidade brasileira: os números da doença cresceram em ritmo de progressão geométrica.

Em Goiás, no final da década de 80, acontecia em Goiânia o segundo maior acidente radiológico do mundo - com a cápsula de Césio 137. Naquela época, três pessoas morreram. E o alarde foi mundial. Ao passo que no ano passado, foram registrados 79 óbitos por dengue no Estado.

A situação é preocupante. E o poder público está se mexendo. Estratégias de comunicação estão sendo pensadas para atingir o maior número de pessoas, mais vezes por dia. Às mídias no rádio, TV e jornal impresso foram acrescentadas: a internet (redes sociais), os celulares (via SMS).  Mas precisamos de mais. Precisamos de comunicação interna, nos ambientes de trabalho; de mobilização nas escolas, nas associações de bairro, em cada canto do nosso Brasil. E nós, comunicadores, temos como desafio desta década, o desenvolvimento de estratégias eficazes para que possamos mobilizar os mais diversos segmentos da sociedade e enfim extirpar o mosquito da dengue de nosso território.


*Assessora de Comunicação da Secretaria de Saúde de GO

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