Leonardo Sodré
Jornalista e escritor
Não pode haver coisa mais chata do que a chamada obstipação ou constipação intestinal. Trocando em miúdos, a popular prisão de ventre. Há alguns anos, numa das muitas redações que trabalhei havia uma colega que sofria desse mal. Passava, às vezes, muitos dias sem frequentar o popular “trono” e sofria muito com isso.
Decibéis já havia tentado todo tipo de coisa, tomado inúmeros remédios, benzedeiras, promessas, terreiros de macumba, mas nada... Até que um dia um amigo lhe presenteou com uma “garrafada” de um líquido amarelo côcô importada de Cuba, dizendo que era milagroso e feito para o seu caso. Segundo o amigo, a poção mágica era feita de uma mistura de ervas com rum carta ouro e que levava até casca de charuto. Uma bomba que resolveria de vez a timidez do seu órgão libertador.
Ele não esperou por nada naquele dia. Colocou a garrafada na mesa de trabalho e começou a bebericar o líquido, dizendo que o gosto era meio ruim, mas que já estava dando um “barato”. Ela sentava do meu lado nos estandes da redação e Cosmonauta, repórter especializado no agronegócio, defronte a mim. Lá para as tantas, ela vira e diz:
- Leo! Chegou a hora...
Aí eu disse:
- Faça carreira...
E ela fez mesmo. Dobrou a esquina da redação fazendo uma curva tão fechada que eu pensei que ela iria derrapar por cima de Azevedo das Pedras, o diagramador mais criativo do jornal, responsável pelas melhores capas e as criações mais fantásticas para o departamento comercial. Esse não podia se machucar.
Toda a redação ficou torcendo para que Decibéis resolvesse de vez aqueles dez dias de sofrimento por causa da timidez absoluta do seu... digamos, órgão de muitos nomes. Mas, enquanto esperávamos, eis que chega uma pessoa que precisava muito da assinatura dela em um documento importante para os dois. O cara tinha que esperar e ela tinha que assinar. Passou-se uns 10 minutos, quando o homem do documento se dirigiu a Cosmonauta pedindo para apressá-la. Ele já havia sido informado que ela estava no banheiro, mas não conhecia em que condições.
- Tenha calma... Depois que o senhor ouvir a descarga, ela chega em segundos. Disse Cosmonauta.
Não demorou e todos na redação ouviram o barulho da descarga. Foram abraços, cumprimentos, urras! Afinal nossa colega estava salva. Mas, nada de Decibéis chegar e o homem do documento ao primeiro barulho de nova descarga já estava de pé, com o documento na mão.
Nova espera. Dez, quinze, vinte minutos se passaram. A impaciência do homem era visível. O suor descia pela sua testa. Devia ter outros compromissos urgentes e a demora o angustiava. Novo barulho de descarga. Ele se levanta e corre para perto de Cosmonauta, com o documento na mão, que já começava a ficar amassado.
- Meu amigo, tenha calma, são muitos dias e uma descarga só não resolve. Ponderou Cosmonauta, calculando que o gasto de água deveria ser de mais ou menos 80 litros, considerando os dez quilos depositados. Pelas contas dele, é claro.
Lá pela quinta descarga e cerca de 40 minutos depois, o homem pede novamente a interferencia de Cosmonauta. Mas, como ele iria conseguir trazer Decibéis para a redação?
O pensamento era de todos. Nova aflição. Silêncio.
Sorridente e cheio de argumentos ele se dirigiu a porta do banheiro e bateu discretamente.
- Tem gente! Gritou Decibéis.
- Sou eu, Cosmonauta... O homem está aperreado demais. Tem outros compromissos...
- E o que eu que eu posso fazer, infeliz?
- Ora, dê um subtotal...
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