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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

“Efeito colesterol”

Leonardo Sodré
Jornalista e escritor

Uma das coisas mais interessante daquele boteco do bairro do Tirol, em Natal, são os tipos que ele acata. O ambiente, de eternas apostas, guarda as mais variadas personalidades. Alguns, somente sentam na mesma mesa e na mesma cadeira. Outros levam seus próprios copos, de modelos que vão do minúsculo até uns que cabe o conteúdo de um cerveja.

Uns vivem lisos. Outros emprestando dinheiro. Têm os que investem, os que têm medo de almas. Uns que dão expediente noturno, outros que passam os três expedientes no bar. Tem o cachorro “Flipper”, da raça VLPO (Vira Lata Puro de Origem), o cão mais conhecido do pedaço, que detesta o barulho dos ônibus alternativos. Tem “Fenômeno”, assim chamado porque confundiu um travesti com uma mulher. Tem de tudo. Até um funcionário público que resolveu ser médico sem nenhuma graduação.

Esta semana, um paulista que freqüenta o charmoso ambiente – único bar da cidade que não aceita vales -, entrou numa farmácia nas proximidades do ambiente etílico e flagrou um dos fregueses assíduos do boteco, um funcionário público, conversando com duas balconistas, enquanto segurava uma bula de remédio.

- Eu, como médico, jamais passaria essa droga para nenhum paciente meu. Disse sério, academicamente sisudo.

- Por que, doutor? Perguntou uma das balconistas.

- Por causa do efeito colesterol, disse o “doutor”, com olhar impaciente de quem não aceita os outros não saber de tudo.

O paulista, que tinha deixado uma dose de Old Parr pela metade para ir comprar um remédio, voltou rapidamente ao bar para contar a novidade. Chegou avexado, morrendo de rir e relatando:

- Já sabem da novidade? Fulano agora é médico. Seu colega, disse apontando o nariz para um médico que estava sentando encostado na parede norte do bar. E contou a história.

Quando o “novo” médico do pedaço chegou, foi assediado. Passou a ser chamado, até hoje, por doutor fulano e volta e meia se irrita quando alguém pede um atestado ou quer uma consulta.

Ele não contava com o efeito colateral da bravata.
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